20081202
Para um gato de rua
Sem olhar para trás, segui em frente e dois minutos depois eu cheguei em casa. Abri a porta e tirei meus sapatos. Ainda me sentia envolvido pela inocência daquela ação, talvez um reflexo da inocência que ainda tenho em mim. Ou da que anseio ter. Não sei. Sentado na cama, rapidamente me lancei e olhei embaixo da cama.
O gato não estava ali.
Este texto é para ele.
20081116
Difícil
"I'm sick of ego, ego, ego, ego. My own and everybody else's. (...) I'm sick of not having the courage to be an absolute nobody.”
Até onde vai o desprendimento? Até onde devemos nos desapegar? É fácil se desapegar das coisas materiais quando você não vive por elas. Não sei bem, mas isso me ficou muito claro quando me assaltaram, levaram meu celular e eu sentia apenas uma espécie de compaixão pelo cara que me assaltou. Não conseguia entender bem a razão disso, gostava do meu celular e ele me era muito útil, mas não era minha vida. Antes me preocupava em ficar atento para não me apegar a esse tipo de coisa, viver em razão de coisas temporais e tão frágeis. Hoje em dia não consigo ver as coisas de outra maneira. É natural e orgânico, não como algo que "aprendi" a fazer mas como algo que me era tão rotineiro fazer e que simplesmente "desaprendi" a fazer. Estou longe de ser perfeito nisso, mas aprendi a encontrar uma voz que tem muito mais força em mim do que qualquer bem material poderia proporcionar.
Então, não entendo bem de onde vem essas inquietações súbitas. Acredito que elas sejam muito proveitosas. Mas ñao sei apontar as suas razões depronto: é um processo. Sou temperamental e difícil e acredito realmente que nada é constante, a não ser a mutação. Eu mesmo, fazendo uma espécie de retrospectiva dos últimos doze meses vejo o quanto mudei. Hoje não me digo mais católico, mas me sinto espiritualmente muito mais forte e em crescimento; sou vegetariano por razões espirituais, políticas, morais e ambientais, e me sinto muito mais fiel a mim mesmo assim; me alimento melhor, gosto mais das pessoas, vivo muito mais aberto e sensível às mudanças;
São tantas mudanças, maiores e perceptíveis ou menores e invisíveis às outras pessoas que não consigo falar sobre elas de uma única vez, já que assim como trato situações negativas de forma abstrata pois a partir do momento que as encaro como "problemas" e concretizo isso em mim, elas passarão a efetivamente sê-lo, também trato as situações positivas e enriquecedoras. E nesse mesmo paralelo, em ambos os casos não guardo memórias concretas do que foi resolvido ou expandido. Simplesmente absorvo e quando olho para onde isso deveria estar, só vejo a mim mesmo, uma parte de mim. Como se sempre estivesse lá, integrado a mim, natural.
E quando não faz mais parte, cresce, funde-se, muda, move-se, desprende ou apreende. Está lá para em breve não mais estar. Nunca é, mas quando está, movimenta o meu ser com toda força, sem grandes estardalhaços.
O ego tem seu lado negativo e positivo. A parte negativa sempre vemos por aí. Mas usar a parte positiva é muito mais importante e difícil. Outra frase do Salinger fala bem disso: "An artist's only concern is to shoot for some kind of perfection, and on his own terms, not anyone else's." A destruição pode ser uma forma de criação, mas isso sempre dentro de si. A destruição de outros e de outras criações e significações apenas pelo próprio ego não tem nenhum valor real, além de alimentar a parte negativa do ego. Manter o foco em sua arte e em si, e fazer o melhor que você pode, é uma maneira positiva de usar o ego em sua forma positiva porque você provavelmente direcionará isso aos outros. E os outros serão atingidos por isso de uma maneira igualmente positiva.
Em qualquer nível, o exemplo é a melhor forma de educação. "faça o que eu digo, não faça o que eu faço" é o tipo de argumento que me faz querer vomitar. É fácil dizer sobre qualquer coisa. Viver essa coisa é muito mais valioso e raro. E então, nada precisará ser dito porque tudo já está feito.
Por isso fico tão feliz com essas mudanças que me fazem ser uma pessoa tão difícil. E não luto contra isso, não disse que seria fácil. Sou um livro aberto e se pareço difícil de ler, às vezes, talvez eu esteja apenas procurando novas significações ou traduções para mim.
20081114
Trajeto
Outro dia vi um homem, de cabelos um tanto bagunçados, camiseta pólo um amarrotada e uma expressão compenetrada. Ele escrevia em uns papéis pequenos, como uma folha de sulfite comum cortada em quatro. Ele tinha uma porção delas. Escrevia algumas coisas, preenchia a folha e, em seguida, colocava essa folha escrita no final da fila para continuar escrevendo na folha branca que era revelada.
É bonito ver alguém escrevendo com tanta concentração, em lugar tão improvável. O barulho, o balanço, o empurra-empurra. Me aproximei do lugar onde ele estava sentado e tentei ler o que ele escrevia. Não consegui ler muito bem, naquele dia, apenas identifiquei se tratar de algumas frases soltas, pensamentos próprios. Notei que alguns falavam de Deus ou de iluminação. Outros de sentimentos bastante louváveis e surpreendentemente muito puros e inocentes para um homem que aparentemente já tem seus quarenta e tantos anos. Gostaria de ter lido alguma coisa por completo, mas infelizmente não conseguia ter nada maior que algumas palavras soltas que ora faziam um tremendo sentido para algum contexto que eu imaginei se tratar, ora absolutamente nenhum.
Por maior que tenha sido a minha curiosidade, fiquei simplesmente feliz de ter presenciado aquilo, no momento me bastou. Me foi suficiente perceber entre tantas pessoas um homem alheio aquilo tudo, redigindo seus pensamentos e idéias com afinco, folha a folha, por todo o trajeto. Associei esse comportamento a uma espécie de mantra. Não sei se é justa a comparação, parece justa pra mim. Um mantra pessoal, uma oração igualmente poderosa e real, espontânea e de profundo valor espiritual. Uma busca de si através do raciocínio lógico impulsionado pelo coração. Me senti muito grato por ter presenciado isso.
Dias depois, vi o mesmo homem com o mesmo comportamento. Dessa vez não pude me aproximar de seu banco, permaneci de pé e distante e ainda assim fiquei profundamente feliz de ver aquele homem de expressão séria em busca de si às sete horas da manhã, em seu mantra. Suas palavras me eram invisíveis mas não podia deixar de me sentir feliz por elas estarem ali, em esferográfica preta, linha após linha.
Hoje pela manhã, ao subir no ônibus vi esse homem novamente. Ele escrevia e nada mudou. A cor da camiseta era outra, mas o modelo era o mesmo. Consegui me posicionar bem ao lado de seu banco e tentava ler alguma coisa que escrevia. Ele é muito rápido, uma coisa meio fascinante.
Aliás, fascinante foi perceber ter encontrado alguém tão valioso ali, em meio a tanta gente que geralmente me irrita. No mesmo espaço, sob as mesmas condições e sob o mesmo disfarce: pessoas.
É por esse tipo de coisa que não consigo ver um paraíso e um inferno como as pessoas colocam, o paraíso lá no alto, o inferno lá embaixo. Pra mim é cada vez mais claro que eles estão muito próximos e interligados, presentes em todos os lugares que se vá, por pior, ou melhor, que pareça a situação.
Hoje o homem ainda escrevia compulsivamente, como se fosse lógico que o fizesse ali, naquele momento sob aquelas condições. Rapidamente preenchia uma folha e em seguida já passava para a próxima, ocultando aquelas linhas dos olhos estranhos e de si mesmo.
De todas, consegui ler apenas uma, instantes antes dele precisar se levantar para descer do ônibus. Ela dizia:
Seja quem for que amamos, nele encontraremos nossa alma em sua maior expressão.
E então, ele guardou seus papéis no bolso da camiseta, se levantou e desceu do ônibus. Para mim, pareceu o suficiente.
20081102
Ensaio sobre a narcolepsia
Exemplo 1: sexta-feira cheguei em casa exausto. Eu precisava editar um vídeo para sábado de manhã. Eu sentei no computador para editar o vídeo. Resolvi enviar um SMS para um amigo. Aí eu cochilei. Acordei minutos depois, sem entender o que tinha acontecido, segurando o celular, sentado na frente do computador com todos programas abertos e etc.
Exemplo 2: ontem, voltando de um dia cheio, mas muito produtivo, estava sentado no ônibus, com um cara do meu grupo, discutindo os próximos passos, o que tinha sido bom daquele dia e o que não deveria acontecer de novo. De repente, cochilei. Acordei instantes depois, após sonhos psicodélicos e uma canção do Stereo Total que no sonho aumentava de volume e ritmo gradativamente. Não sei se meu amigo percebeu. Eu percebi. E cochilei mais duas vezes, pelo menos, no caminho até em casa. Tão inesperados e repentinos quanto o primeiro cochilo.
Junto do meu alzheimer, minha surdez, meu mau humor e minha acidez, a narcolepsia abraça a paranóia e todos cantam um belo Soneto à Hipocondria.
20080920
Desaparecimentos
Sei que tenho um alzheimer fodido, lembro de pouca coisa ou lembro de fragmentos divertidos e inúteis. Mas isso já tá me irritando.
Falando em desaparecimentos, desapareci daqui, do Pinball Mutante. Culpo o TCC. Aliás, recentemente culpo o TCC por metade dos meus problemas e soluções. Um quarto é culpa do sistema. Os outros 25% são juros. Falando assim, parece que me falta assumir a responsabilidade pelos meus atos, não é?
Não, não é. Tento me manter consciente e assumir a responsabilidade por cada ação minha e encaro as conseqüências ciente de suas origens. Nem que seja de uma ironia gratuita lançada em um texto vazio.
Eu vou ali e volto já,
20080901
Contagem Progressiva
Por deus, quantos posts eu vou precisar colocar aqui sobre o the Hives? É importante notar que este não é um blogue sobre o The Hives.
Declaro esta, oficialmente, a Semana The Hives.
Ave, Hives.
20080817
Acerto
Imaginação, raciocínio e coração.
Talvez seja disto que a minha alma seja feita. Talvez seja disto que as almas sejam feitas. Como suprir e fazê-las trabalharem tão honestamente para que a alma sinta-se verdadeira é a obrigação de cada um. Seja pelas formas e meios que sejam necessários para que haja esse estímulo.
As pessoas por aí não têm muitos estímulos, há uma definição diminuta de valores e conceitos. Esvaziam-se almas. Esvaire-se a imaginação, o raciocínio e o coração. E não há nada que eu possa fazer sobre isso.
Cada um só é responsável pela sua própria alma.
20080811
Férias
Considerando o último mês, é aceitável. Por deus, julho foi um mês extremamente longo. Estou feliz que acabou.
Queria ter alguma coisa de férias. Se tivesse, eu estaria com a cabeça no TCC e não descansaria. Esse semestre é meu semestre final. Produziremos algo sensacional. Produziremos um trabalho de conclusão de curso absolutamente sensacional.
E aí eu terei férias.
20080728
Sabotadores
Você lerá isso e se calará porque você é como eu. Porque ambos somos sabotadores.
20080727
Combustão
Não é justo dizer que ela é alta. Ou bonita. De fato, ela é bastante alta. E sua beleza não é convencional, ela poderia até ser chamada de esquisita-ainda-que-realmente-bonita. Pra mim não há mulher mais bonita. Isso tudo é fisíco, qualquer um vê. O que não é possível de ver é como ela é bonita. E alta. Essa beleza e tamanho que só tive contato quando a conheci de verdade e não consegui descrever ou racionalizar. É tão vasta e real e sincera e pura. Livre, banal, cretina, mutante, intensa, difícil, humana. Todas as pessoas se apaixonariam por ela se a conhecessem. Provavelmente todas se apaixonam. Eu soube até de um carro que tem sentimentos por ela. Não sei se deveria acreditar, mas acredito.
Me apaixonei por essa vivacidade, por essa realidade. Ela brilha entre as pessoas porque é real. Ela é bonita e alta porque é real. Posso amá-la, eu a amo, tudo bem. Amanhã tudo pode mudar, essa paixão acabar, os corpos esfriarem e a distância aumentar. Como se os fios invisíveis que nos seguram fossem cortados e não conseguíssemos nos segurar. Não acho impossível nem improvável. Ela não é minha e eu sei disso. Também sei que ela sempre será muito bonita e muito alta e extraordinária, mesmo quando a paixão acabar e ela levar seus discos incríveis consigo e a casa ficar muda.
E tenho mais certeza disso quando estamos apenas sentados, conversando e de repente, aparece algo que ela considere tão deliciosamente prazeroso que a faz rir com vontade, batendo seus pés descalços contra o chão, com excitação.
Eu amo a sua ingenuidade. Sua espontaneidade e seus momentos explosivos de loucura. Ela não é minha mas queria poder protegê-la para sempre. Ela é uma mulher muito especial e sei que muitos homens já a feriram, eu sinto algumas de suas cicatrizes quando olho em seus olhos, cheios de paixão. Me sinto apavorado ao pensar o que tantos outros homens poderão fazer com uma criatura tão pura, que tipo de marcas eles poderão deixar. Que toda aquela beleza poderá ser destruída por algum imbecil que não conseguirá perceber nem lidar com a delicadeza daquela personalidade tão rara que transborda por aqueles olhos tão bonitos e pálidos. Tão sinceros. Me sinto apavorado porque sei que cedo ou tarde, isso vai acontecer. Me sinto apavorado porque esse imbecil pode ser eu e eu jamais me perdoaria se eu tirasse a vida de seus pulmões e ela simplesmente respirasse, como a maior parte de nós.
Aliás, agora mesmo não sei dizer exatamente qual é a cor dos olhos dela. Como ela, eles parecem estar tão cheios de vida, intensos e em uma espécie de combustão. Ela é a mulher mais alta e mais bonita que eu já vi.
20080721
A melhor invenção
Queria tê-la como invenção minha, criação espontânea, uma loucura da conveniência. Assim, quando você tivesse ido embora, eu poderia inventar um novo alguém para amar como eu a amo. Seria perigoso e previsível porque eu inventaria uma nova você, da mesma maneira. Pode-se inventar uma invenção, novamente? Reinventar? Seria uma cópia. Um novo esconderijo, uma nova imaginação. Quero adiar o momento de abandonar a ilusão e perceber que você não apenas existiu como me amou e me deixou. Negar, posso negar e deliberadamente imaginá-la e reinventá-la de todas as maneiras, que sempre serão você. E você-imaginária, sempre imaginará e reinventará a mim.
não,
Você existe porque foi embora e, eu não consigo amar ninguém assim como eu te amei —real ou imaginária.
Você existe e é a melhor invenção que eu jamais poderia imaginar.
você foi embora.
20080717
fa.vo.ri.tis.mo - S. m.
Tenho uma método muito pessoal de classificar as pessoas. Não todas, só pessoas que eu amo e tenho profunda admiração e respeito. Sinto-me à vontade para falar e sei que a pessoa sente-se à vontade para me falar, quando necessário. São aquelas poucas pessoas que me deixam meio fascinado, pessoas cujas vitórias, sucessos e projetos me são tão caros e importantes quanto os meus próprios, e os insucessos me chateiam igualmente. A quem eu quero contar coisas grandes, pequenas, importantes e as mais cretinas que eu posso conceber e vice-versa. Quero mostrar e discutir músicas, livros, filmes e idéias. São minhas pessoas favoritas.
É um favoritismo saudável, são favoritas frente à média populacional, sem parcialidade ou escolha. São apenas pessoas que me vêm à cabeça quando penso em pessoas e, que me vêm à cabeça agora quando penso sobre pessoas e, mais especificamente, pessoas favoritas. É uma coisa meio esquisita, difícil de definir. Não idolatro ou sobreponho. Somos pessoas diferentes e iguais, em tantos pontos, isso é uma constante. Mas é a mais fraca. Pareço-me com pelo menos uma centena de pessoas, ainda que cada um seja único. Identifico poucas pessoas que se destacam, assim.
Posso conhecer muitas pessoas e gostarei de algumas tantas e amarei outras poucas. Mas, pessoas que considero favoritas estão em uma escala menor.
Não posso definir uma escala de amor, mas são pessoas que eu amo com toda sinceridade. E é importante notar que não consigo mais namorar uma mulher que, de repente, percebo ser uma pessoa favorita. Absolutamente não consigo.
A única razão para me sentir compelido a não fazê-lo, imagino, é justamente por proteção. Não existe espaço para a paixão ou o desejo. O amor toda conta de tudo e, nos casos em que previamente houve a paixão, ela me parece tão pequena, insignificante e insuficiente que é substituída pelo amor, ainda que já houve um caso em que as propriedades foram mantidas e amplificadas.
Nos casos em que não houve um envolvimento prévio, que é onde se aplica a maior parte absoluta dos casos e, esses, sem restrição de idade, gênero, tempo ou distância, simplesmente amo a pessoa e a única expectativa, talvez requisito, é a sinceridade e honestidade recíprocas. Não é apenas isso, mas o restante é abstrato demais, ainda que demasiadamente significativo.
Não digo à todas as minhas pessoas favoritas que eu as amo. Muitas vezes não digo nem que elas são assim, minhas favoritas. Não muda muito as coisas, eu acho. Não sei fazer nada sem amar e sou redundante em amar, sem perceber. Devo ter muita sorte.
20080713
Dia do Rock/2008
É óbvio que esse ano as coisas foram diferentes, foram parecidas com o que eu disse que o dia do Rock não era. A música foi alta e o clima incrivelmente familiar. Não foi ruim, mas não foi um dia do Rock. Rolou um Twist and Shout e um Jailhouse Rock e eu dancei um tanto. Porém, percebi que estava tudo errado quando estava tocando Whiskey a Go-go e eu estava no meio de uma roda de mulheres de 60 anos cantando em coro "hey hey, ho ho" pra desembarcar num "eu perguntava do you wanna dance?" ao invés de um saudável "let's go!".
Pretendia celebrar o meu dia do rock da maneira que eu acho ideal à noite. Não deu tempo. Já é praticamente um dia 14 de julho qualquer. Ano passado rolou comida mexicana. Esse ano, eu diria que o ponto alto foi um frapê de capuccino, do Habib's. Não me leve a mal, adoro o frapê de capuccino. Mas não era o que eu esperava para o meu dia do Rock, absolutamente. Não digo que eu queria uma bebedeira infernal com inconseqüências, promiscuidades e o som alto e prejudicial à saúde. Isso não seria ruim, tampouco. Mas, sério, nem de longe eu diria que as melhores coisas do meu dia do Rock foram um frapê de capuccino e a audição de um disco do The Hives.
Essa semana eu desconto.
20080708
Retiniano
Ela estava sentada ali e quando o ônibus parou no semáforo, seu rosto se virou para a janela, com os olhos percorrendo o local onde estava, se localizando com curiosidade e insegurança. Ela sabia onde estava, mas não deixava de procurar, daí talvez essa sensação tão leve de insegurança. O que poderia encontrar, ou quem? Alguma coisa ela procurou por alguns instantes sem ir muito além, até que se viu na mesma rua de todo dia e voltou o rosto para frente, numa expressão impassível.
Por algum tempo, admirei aquela mulher silenciosa e absorta em pensamentos indecifráveis. De repente, com uma sutileza surpreendente, seus lábios se curvaram, levemente e seus olhos sorriram, ainda distantes, como quem encontra prazer e conforto em algum lugar de seus pensamentos para, no instante seguinte, a expressão séria e impessoal voltar ao seu lugar. Mas, era tarde demais para se recompor pois eu vi aquela faísca de satisfação, tão rápida quanto intensa. Sei que vi porque aquele sorriso rápido e sutil surgiu de forma tão repentina e sincera que fez uma marca em minha visão. Como quando se olha por muito tempo para uma lâmpada ou para o sol e depois se continua a ver aquela fonte de luz em todos os lugares para onde os olhos se colocam. Uma persistência retiniana. Foi isso que aconteceu, uma espécie de persistência retiniana. O sorriso daquela mulher atingiu meus olhos de tal forma que desde então, continuo a vê-lo com o mesmo prazer e surpresa, no mesmo lugar, não importa para onde eu olhe.
O semáforo ficou verde e o ônibus se foi.
Ela não me viu.
20080706
mono
Eu sou mono.
Sou humano e movido por paixões.
Mono, mono, mono.
Não desligo nem me ligo
fico alheio, indiferente
apaixonado pelo amor
pela paixão
pela criação.
Não consigo evitar de
me manter indiferente aos
atos comezinhos e
aos assuntos de enchimento.
absorto em mim, em mono,
sou um monstro que soa como
muitos, simultaneamente,
de forma grotesca
talvez disforme, mas se digo,
digo não;
eu sou um monstro mono.
todos os sons partem de um único lugar
de uma única fonte
e, ainda que se identifique
aparentemente
mais e mais fontes,
o som é único e repetido em todas as caixas,
em todas as fontes.
Como um padrão
meu som é mono.
pode ser um defeito
ou uma característica
não sei apontar. De forma geral,
sou mono
e
não sei colocar menos energia e paixão
em qualquer coisa que eu faça.
E faço, crio, devoto e reproduzo,
com tentativas e erros,
ecos dessa paixão mono em mim.
E quando está, está completo.
Mantenho minhas fontes
e parto a novas criações.
Permaneço mono, mas
minhas paixões vão a estéreo.
20080701
Guerra Dentro da Gente
— Não agüento mais de tanto amor. Vou embora hoje mesmo. (...) Quero sair pelo mundo, dizendo que a vida é melhor que a morte, que a alegria é maior que a tristeza e que os golpes de espada passam, mas só os beijos ficam.
20080629
Introdução
Vou colocar a Introdução da pesquisa aqui no blogue porque eu não sei bem quais são as limitações legais para a sua distribuição. Mas a introdução não é um problema, eu imagino. Quando ela estiver fechada e quando a dúvida em relação à essa distribuição for solucionada, eu a colocarei aqui, na íntegra, caso exista algum interesse.
No momento,
INTRODUÇÃO
Os sonhos são formas de expressão consideradas, de uma forma geral, tão íntimas quanto criativas. O sonhar é considerado absurdo quando não tem nenhuma similaridade com a nossa vida cotidiana —enquanto acordados— e, assim, são pensados pela sua forma, simplesmente. Por exemplo, uma pessoa, subitamente começa a voar, e no sonho isso não parece absurdo, mas ao acordar e pensar no sonho, é quase natural que o sonhador seja tomado por fascinação, estranhamento ou indiferença. Essas reações só são possíveis porque se reconhece que há uma linguagem própria e porque alguma sensação aquilo causou, ainda que em sonho. Em um sonho, nada que é sonhado é real, mas sensações como o medo ou alegria experimentados são completamente reais.
Há muitos artistas que buscam a expressão do sonho em suas obras, mas há uma diferença entre a representação do sonho como forma e a representação do sonho como linguagem. A representação como forma pressupõe uma abstração maior, um estranhamento causado no espectador pela pouca familiaridade com as formas. Possui seus significados ocultos ou maiores, porém são plasticamente desfigurados e baseia suas características de “sonho” na figuratividade e no simbolismo.
A representação pela linguagem também causa um estranhamento, mas as formas não necessariamente são abstratas ou completamente estranhas. Podem ser ambientes igualmente familiares ou conhecidos para os espectadores, mas a sensação de desconforto é constante. Assim são os filmes do diretor David Lynch. A linguagem se estabelece e quem assiste e se permite entrar em seus filmes, geralmente é recompensado com uma narrativa elaborada, intrincada e com uma aura constante de mistério, gerado por fatores que não são sempre fáceis de discernir.
David Lynch usa a linguagem do sonho em seus filmes, mas qual é o processo que ele utiliza para construir seus filmes e elaborar essa narrativa? O processo criativo de um ser humano é pessoal e subjetivo, mas é possível perceber características comuns em todas as obras já produzidas e, assim, se estabelece uma referência de possibilidades que são aplicáveis ao processo de criação daquela pessoa, especificamente.
Não há a pretensão de analisar profundamente cada obra do diretor nem, sequer, ser mais psicanalíticos e freudianos do que o necessário para compreender cada ponto apresentado, pois os argumentos de Freud e suas teorias a respeito da ciência do sonho serão utilizados como referência para argumentação. Nessa pesquisa, procuramos compreender e apresentar o processo criativo de David Lynch, através de um método quase construtivista. É nosso desejo que você chegue ao capítulo final dessa pesquisa, a conclusão, possuindo as mesmas e tantas outras conclusões sobre o assunto. As possibilidades são inúmeras e, assim como um sonho pode ser interpretado de inúmeras maneiras, dependendo do seu referencial, mostraremos alguns referenciais que, como fragmentos, irão compor uma unidade maior que corresponderá à nossa interpretação do processo criativo de David Lynch.
20080622
Ao som das sirenes
Tive pesadelos a noite toda. Com gente que eu conhecia, com gente que eu não conhecia diretamente, com gente me cobrando da pesquisa e criticando tais e tais abordagens. Foi um horror. Tem sido bastante desesperador. E estou cansado, cansadocansadocansado.
Por isso tenho postado menos aqui. Isso não quer dizer que eu tenha abandonado o blogue nem nada. O meu Flickr, por exemplo, está em plena atividade. Postei ontem um álbum novo, com uma seqüência de fotos tiradas há algumas semanas, em uma feira, numa manhã de domingo.
Outra coisa legal é que comecei a entender o tal Twitter e como ele se diferencia disso aqui, por exemplo. Debutei no Twitter parafraseando Salinger:
Espero que após o TCC eu esteja com todas as minhas fac- com todas as minhas f-a-c-u-l-d-a-d-e-s mentais intactas.
Deveria reescrever isso lá. Eu realmente espero que assim o seja.
O toque do meu celular atualmente é um trecho da música Stress, do Justice. É totalmente proposital. É como as coisas têm soado, ultimamente, aqui dentro.
Não conhece a canção? Escute-a, graças ao Deezer.
Discover Justice!
Com exceção disso tudo, das sirenes e das furadeiras, as coisas estão ótimas. De verdade, e não apenas porque o The Hives vem ao Brasil! É incrível como a determinação real e pura consegue se sobrepor às improbabilidades do cotidiano.
É simplesmente incrível.
20080613
Sexta-feira, 13
bah,
que se foda, o The Hives vem pro Brasil.
!
20080612
Mate-me, por favor!
O The Hives tocará no Brasil!
O The Hives.
Já falei do Hives por aqui. Umas duas vezes.
E no final do post sobre o show do Devo, eu escrevi:
Não costumo me perder em sessões de nostalgia ou sequer reclamo de bandas ou músicas novas. Mas tou pra ver uma banda mais recente que consiga fazer um show tão empolgante quanto o Devo ou o Iggy com os Stooges (The Hives, espero por vocês!).
CARALHO! É a melhor notícia do ano!!
20080608
20080603
Hey,
Ele lançou seu primeiro disco em 1955 pela Chess Records. No lado A, uma faixa que carrega seu nome, "Bo Diddley". No lado B, "I'm a Man".
Nunca tive esse disco em mãos, infelizmente só conheço as canções digitalmente. Mas por conhecer as canções, penso se não é o caso de ser um dos melhores compactos simples já lançados, em que ambas as faixas são igualmente infernais.
Que descanse em paz. O cara merece.
20080601
Sonhos de conveniência
Por exemplo.
Eu queria trabalhar de madrugada, aqui em casa, redigir meu TCC no silêncio da noite, para não ter distrações. Para tanto, ontem, por volta das 23h, me deitei pra dormir por cerca de duas horas, duas horas e meia, e aproveitar bem a madrugada, me enganando que tinha dormido um pouco, pra não parecer que pulei uma etapa. À 1h30, meu celular tocou e naquela confusão entre estar acordado e estar dormindo, desliguei o alarme e voltei a cabeça pro travesseiro, me perguntando o porquê do celular despertar aquele horário.
Me passou pela cabeça, então, que era para eu fazer meu TCC. Sendo assim, redigi meus textos do TCC e a madrugada foi incrivelmente proveitosa. Consegui terminar o capítulo sobre os sonhos e comecei a adiantar outros dois! Foi a coisa mais incrível que poderia ter me acontecido!
Acordei então, subitamente.
Era 5h19 e eu estava deitado na minha cama.
Levei alguns minutos para voltar ao normal e entender que a proveitosa madrugada foi um sonho. Um sonho de conveniência, tal qual e tão claro quanto Freud falou. Sonhei que realizava meu trabalho de forma que meu sono não fosse interrompido para que tivesse de fazê-lo. Como, psiquicamente, o TCC estava sendo feito, eu pude então dormir tranqüilo, a noite toda.
Droga.
20080528
As boas novas
"Eu devo ser louco" disse ele. "Eu só posso ser louco. Não há nada a se dizer. O tipo de coisa que geralmente provoca os mais profundos desejos e pensamentos nas pessoas me parece ridiculamente triste agora. Não consigo ver isso de outra maneira. E a pior parte é que nem eu sei bem dizer sobre isso. Sei que quando soube de tal fato, fiquei tão confuso que chorei um pouco. Não aconteceu nada de dramático ou a cena que você deve estar imaginando, Umberto. Só me senti profundamente emocionado entre a idéia de novas possibilidades e a possibilidade de deixar algumas idéias. Quando você se depara com essa possibilidade e tão somente com a possibilidade, e parece uma agressão, uma violação do seu tempo. Uma violação dos seus ideais. É triste, triste, triste. E feliz. É tão contraditório e violento. É uma canção fora do tempo. Um momento sem ritmo, uma suspensão e um desconforto. O tempo passa engraçado, a possibilidade é mais um elemento de adversidade quando deveria ser justamente o oposto".
Carlos pára por um instante, refletindo no que disse. Umberto permanece ali, imóvel.
"Se é só uma possibilidade, você não deveria se preocupar tanto com isso, cara. Isso é bom, se você pensar bem".
"Isso é bom? Não sei se isso é bom, esse é o problema. Em outros momentos, provavelmente, seria só mais uma decisão. Pesaria os prós e os contras. E me colocaria do lado do vencedor. Agora, não há parâmetro, peso equivalente. O material usa um sistema diferente do imaterial e não estou certo de qualquer matemática para fazer uma conversão que seja justa". Pára um instante. Carlos traga o cigarro mais uma vez e, em seguida, amassa-o contra um cinzeiro que estava no centro da mesa. Cobre o rosto com as mãos e suspira, com tom reflexivo, pressionando seus olhos nariz bochechas, como se pudesse deformá-los tal qual massa de modelar.
"E o que se pode fazer?" pergunta Umberto, interrompendo a obsessão não de todo gratuita do amigo.
Carlos solta as mãos do rosto e olha para Umberto, que permanece encarando-o com uma seriedade tamanha que ao contrário de parecer rancorosa ou indiferente, dada a aparente rispidez da interrupção, só denota a honestidade e a verdade tão simples de sua pergunta. Carlos desvia o olhar e alcança o maço de cigarros. Com um movimento, expõe três cigarros, dos quais um se desprende e cai sobre seu colo. Leva o cigarro aos lábios e busca a caixa de fósforos nos bolsos de seu paletó com os olhos baixos, ainda pensando. Sem levantar os olhos e segurando o cigarro nos lábios, conclui.
"Não sei o que fazer".
20080524
Godfathering
Pretendo auxiliar a garota sob os meus preceitos que não necessariamente são cristãos. São fragmentos de tantas crenças, opiniões e subjetividades em geral que questiono uma aplicação para outro alguém a não ser eu mesmo. São válidas apenas para mim e só as responsabilizo em mim porque elas são igualmente mutáveis e eu sei a origem da mudança de um aspecto ou da sedimentação de outro. Assim como saberei da mudança dessa sedimentação, quando achar que assim deverá acontecer e da flutuação de tantas outras possibilidades e fatos que, certos ou não, manterei os pés fora do chão para poder me decidir. No fundo, não é fora do chão. É no chão formado por essa sedimentação, absolutamente temporária. Não é real ou concreto. Parecerá inconstante e desconfortável e muitas vezes, realmente é e será. E assim sendo, eu mudarei, todas as vezes, fixo apenas nas minhas convicções absolutamente pessoais e egoístas, que paradoxalmente atribui um valor incalculável às outras pessoas, sob as menores distinções que eu consiga atribuir.
Talvez mais do que um aspecto de educação religiosa (que sendo tão profundamente pessoal e honestamente, prefiro não induzir a absolutamente nada, oferecerei o que considero importante, apenas se achar necessário), acredito mais uma espécie de educação moral, por pior que soe a palavra moral. Atualmente, afirmo que os meus aspectos morais são fundamentados num processo de consciência e tão somente isso. A consciência de si. A consciência de seus atos. Um questionamento dos atos. Um questionamento de si.
Essencialmente, é isso. É muito mais, muito maior. Mas a essência, está aí. E é justamente isso que tenho para oferecer, agora. Ou tentarei fazê-lo, não sei. A garota tem apenas três meses, parece-me absurdo me preocupar com algo assim quando ela é tão nova, mais absurdo até do que ser chamado para ser padrinho de batismo. Mas aceitei a função, apesar do absurdo. Então, apesar dos absurdos, vou. Ali.
20080517
(a)cúmulo
Não é um TOC. É outra coisa. Simplesmente acumulo. E me desprendo da mesma maneira. Não sei, olho, sinto, penso, vivo. E de repente, tudo está lá, inclusive eu. Acumulo sem querer, as coisas se sobrepoem, me tomam, ocupam meu espaço imaginário. Os outros, eu. O mundo. Acúmulo.
E digo que não é TOC. É outra coisa. Porque quando percebo o acúmulo, o desprendimento é rápido. Porém, só o percebo quando o peso das coisas é maior que o meu e não consigo mais transitar em mim. Surgem bloqueios, irritação e cansaço. Não tenho o que fazer.
Formatei meu computador nessa semana. Fiz um extensivo backup em diversos DVDs. Só de música, foram 7 discos repletos. Trabalhos, projetos, textos e fotografias, em tantos outros DVDs. Em 1,48 GB eu tinha todos os meus e-mails, em um arquivo especial, já que eu faço o download dos e-mails através do Thunderbird. Gravei o arquivo especial em um outro DVD. Após formatar a máquina, reinstalar os programas e testar as configurações, tentei restaurar os e-mails. Deu erro. Perdi meus e-mails.
Instantaneamente, senti frustração. Depois, uma espécie de alívio que se transformou em completa indiferença.
([a]cúmulo)
Eu não sou meus e-mails. Apesar de que eu os tinha como "memória", já que a minha memória natural é pouco eficiente, eles não são nada. Foram. Incríveis. Agora, em especial, não são.
Hoje pela manhã, notei que meu celular alcançou a incrível marca de 600 mensagens recebidas e quase 500 enviadas. Não foi o meu celular, não o culpo. A culpa é minha. É desse acúmulo. Talvez, um medo de perder o que não existe. Esse medo de perder a existência, memórias e momentos. De que me adianta ter 600 mensagens no celular quando os melhores momentos da minha vida são maiores que um SMS? São gratas recordações. Um nojento saudosismo. Um escrotismo, uma falta de bom senso. O cúmulo do acúmulo. Um paradoxo entre pensamentos, ações, lembranças e momentos.
Sei que não deixarei de acumular. Acumulo coisas muito mais bonitas e abstratas que e-mails ou SMS. Coleciono, por exemplo, sorrisos. De todo mundo, em todos os momentos. É inevitável, devo ser um maníaco. Mas acho bonito ver um sorriso sincero e infelzimente, não se vê tantos por aí. E quando vejo um, sinto-me realmente feliz por estar ali, mesmo que o sorriso não seja pra mim. A felicidade é o tipo de coisa que eu não consigo deixar de acumular. Acumulo também momentos, sensações abstratas. Primeiras impressões. O cúmulo das impressões. Idéias, pensamentos. Cores, formas. Abstrações, todas as abstrações. E esse tipo de acúmulo é tão positivo e engradecedor que não sei se conseguiria deixá-lo de lado. Não poderia. É parte de mim, tão natural.
Observar-absorver-refletir-construir-destruir-construir.
É um reprocesso de mim, constante. Eu e o mundo. Em uma briga diária. Em uma valsa constante. O amor. A raiva. o amor, o amor, o amor. O acúmulo.
Julgava ter nas mensagens de e-mail o mesmo tipo de acúmulo que me é natural. Talvez seja. E seja natural acumular. E seja natural deixar evaporar. Talvez seja tudo muito natural. Não quero isso pra mim, não assim, se é assim que deve ser. Não preciso disso. Não quero isso.
Me desprendo do acúmulo mesquinho e imaginário. Acumularei apenas as minhas abstrações e toda essa sorte de coisas que me emocionam porque são simplesmente humanas e verdadeiras. Faço disso um compromisso.
não.
Não tenho outro compromisso senão em ser fiel a mim mesmo, à verdade. Não há nada se não sou sincero comigo mesmo. Não há nada sem a minha obsessão com a sinceridade. Que o processo de acúmulo ou desprendimento seja apenas derivado disso. Porque se eu sou sincero e honesto, o acúmulo se esgotará por si. E me desprenderei da mesma maneira.
20080504
Droga
Porra. Retomando meu discurso, alguma coisa deve estar profundamente errada no seio familiar quando sua mãe conhece tal gíria pra heroína e trata isso com tamanha naturalidade. Não sou referência para gírias de rua, claro. Mas, em todos os meus anos de infância no Bronx nunca ouvi tamanho absurdo. Brown sugar é a versão mais barata de heroína e com qualidade das mais questionáveis, por isso é marrom.
Fico preocupado com a minha mãe. A de boa qualidade é branca.
Papo firmeza
Trabalhei até quarta-feira (porque na quinta-feira foi feriado, felizmente) e até às 22h30 da quarta-feira, o que significa que a Semana do Saco Cheio valeu meio que o mesmo que um saco de merda, quando estimamos que eu deveria estar em recesso, lendo meus trabalhos e fazendo as minhas pesquisas para o TCC. Só consegui fazê-lo a partir de quinta-feira e, desde então, tô em um bate-papo firmeza com o meu amigo, o Freud. O Lynch às vezes aparece e conversa um pouco também.
Em resumo, o meu TCC buscará analisar, ahem, "A influência dos sonhos na construção e desenvolvimento do Processo Criativo" e, como estudo de caso, analisaremos a obra de David Lynch. A pesquisa está caminhando muito bem mas me assusta um pouco a composição do texto que terá de ser feita, em breve. Não tanto assim, claro. Nos meus bate-papos firmezas com o Freud eu aprendo bastante e além disso, gosto quando ele comenta que a obra de outro autor sobre os sonhos é "volumosa mas sem consistência" ou coisas do tipo. Ele é um velho meio intragável, concordo mas, é sensacional ler esse tipo de comentário em notas adicionadas em edições posteriores do livro (mas anteriores já há uns 99 anos atrás). É uma literatura densa, um pouco difícil. Mas de inegável charme e valor. É definitivamente interessante e instigante. Fugi um pouco para escrever aqui, fazer um ou outro trabalho necessário e então, voltar ao Freud.
20080502
Um favor
Fique receptivo, perceba as nuances de tudo, mantenha-se crítico e efêmero. É profundamente recompensador. Uma exposição aparentemente minúscula porém, filosoficamente massiva. Até nesse sentido parece que foi minuciosamente montada.
Fica no Museu de Arte Brasileira da FAAP (rua Alagoas, 903) até o dia 1º de junho e é gratuita.
20080427
Eu, Spam.
Apaguei cookies e tudo. Não ajudou nada. Vou desconectar e voltar porque provavelmente é o IP que o Speedy pegou ou coisa assim.
Mas eu me lembrei, instantaneamente, daquela comunidade, Eu acho que sou um SPAM cuja descrição abrange aquelas imagens dificílimas para diferenciar se você é uma máquina ou gente mesmo. Não é sempre mas a maior parte das vezes eu fico em dúvida e arrisco mas, me deparo com "A seqüência digitada não corresponde com a imagem exibida. Favor, tentar novamente" e é de foder porque aparece outra seqüência diferente.
E não é apenas em verificações virtuais que me deparo com a possibilidade de ser Spam. Se eu fosse um spam, na vida real, provavelmente seria um da Velha Surda porque não é possível. Em um exemplo recente, ontem eu estava comendo algo com uma amiga, no Habib's, antes de seguirmos para a Virada Cultural. Ela me contava sobre a sua cabeleireira.
— E ela é uma mulher que além de cobrar barato pelo corte, tem uma vivência incrível, ela conhece de tudo, de filmes a música e tudo o mais mas, olhando pra ela você não diz.
— Por que?
— Ela é negra, gordinha, com cabelão comprido e saia longa, parece uma dona-de-casa comum mas, já viajou pra fora e tudo, até. E ela tem uma filha, que é paralítica.
— Como é? — perguntei meio estarrecido.
— Paralítica, ela tem um problem--
— Ah! Ufa, paralítica! Menos mal!
— Menos mal?!
— Não! Não é isso! É que eu entendi que você tinha dito que a filha dela era "paraíba" e eu pensei "meu deus, eu não sabia que a Flávia tinha esse preconceito".
— Hahahahahahahahahah!
— Hahahahahahahahah!
— Mas não, imagina. Ela é paralítica mesmo.
— E eu sou meio velha surda.
20080423
O tal Terremoto - II
Se a ação foi publicitária ou geológica ("espontânea") eu ainda não sei dizer.
O tal Terremoto
São os "relatos dos leitores sobre o terremoto que atingiu o país". Não li todos ainda porque quero guardar algo para um dia cinzento (ou de terremoto!) mas isso vale ouro! Relatos como os devaneios dessa gente bonita que canta e grita:
"Trabalho há 15 anos num escritório que fica no 12º de um prédio da Rua Pamplona. Já é o terceiro 'terremoto' que vivencio. Na primeira vez, achei que era uma vertigem até descobrir, através do site do UOL, que tinha havido um tremor. Da segunda vez --a idade traz mais medo-- achei que o prédio podia estar caindo! Hoje à noite estava, como sempre, trabalhando no computador. A impressão que tenho é que a cadeira começa a se balançar e sempre fico em dúvida se sou eu que estou um pouco tonta ou se realmente é um tremor. Nunca tinha sido tão longo quanto hoje. A sensação é estranha, mas as coisas não se mexem: papéis, copos, lápis, nada do que estava na mesa se mexeu."
Ou, o relato sobrenatural de Waléria Branco:
"Eu estava em meu computador e senti a mesa do computador tremer meio forte quase andando, acho que alguns minutos depois das 21h. Neste mesmo momento um amigo escreveu que o prédio dele tinha tremido que poderia ser um terremoto e eu ate ri, mas falei que o meu computador tinha tremido forte e ate pensei que era algo espiritual pois estava brigando com minha mãe (apesar de não acreditar em espíritos né)."
Ou a sensação de Guilherme Pereira Mendes:
"Em Campinas (Parque Itália perto do centro), por volta das 21h, foi sentido o tremor que durou alguns segundos, dando a sensação que eu estava com vertigem e tremeu o chão e o arquivo de pastas suspensas, ao lado do meu computador onde senti a sensação. Sensação horrível. Gostaria de saber os motivos e como nos defender desta manifestação da natureza."
Ou ainda a Hollywoodiana decepção de Amir:
"Estava trabalhando no computador quando achei que estava balançando. No início pensei que estava passando mal, mas depois reparei que o fio espiral do telefone, que sai do aparelho, fica pendurado no ar e volta ao monofone, estava balançando. Saí correndo pela casa à procura de outros indício do tremor, e quando cheguei na área de serviço vi o cesto da máquina de lavar roupa balançando. Só estranhei que os cachorros estavam quietos, achei que no caso de um tremor ficariam todos latindo sem parar."
Enfim, cada lugar tem depoimentos sensacionais, uns melhores que os outros. Sem falar em erros crassos de português (falta de acentuação ou excesso dela [li um algúns que me fez questionar ainda mais o sistema de educação]) ou ainda, todo mundo erra e tudo mas pomba, é no site da Folha de S. Paulo! Não há um editor responsável para corrigir esse tipo de erro ou a idéia é deixar os erros pra parecer que é autêntico?
Falando em autenticidade, honestamente, muitos relatos começam com "Aqui também tremeu", "Estou comunicando que", "Senti o tremor", etc. etc. Fora de brincadeira, como é isso? Essas pessoas ligam ou mandam e-mails à Folha de S. Paulo pra falar do terremoto ou é o jornal que sorteia números de telefone e perguntam "Oi, e aí? Tremeu?"? Porque a notícia diz que "Se você sentiu o tremor de terra, envie seu relato para a Folha Online por meio do e-mail enviesuanoticia@folha.com.br" e, obviamente, é hora de anunciar coisas de graça. Segue modelo (É só preencher as lacunas!):
"Aqui em ____________ também tremeu! Senti o chão balançar e culpei a marvada. Fiquei preocupado pois estou vendendo um _____________ em estado de novo e ele não sofreu nenhum arranhou, continua lindo. Lembro que minha vizinha ficou muito assustada e achou que seu telefone não conseguia fazer ligações. Ela gritou em meu portão "___________, qual o seu telefone? Preciso fazer um teste!". Eu falei "Meu telefone é (__) _____-_____!" ao que ela respondeu "Estou tão assustada! Vou testar meu telefone ligando pra você agora, tudo bem?! Ei... belo _____________!"
Da maneira como eles estão revisando os textos, é batata!
20080421
A Indefinição do Amor
De volta às questões iniciais, há uma que eu gostaria de tentar responder aqui com você. A última questão, no caso. Existe o amor? É uma questão difícil porque remete a linhas fisiológicas, instintivas, filosóficas, abstratas e pessoais. Mais uma vez sobre os referenciais (prometo que deixarei isso de lado já), alguém solitário afirmará, de pronto que não existe. Outro, em um namoro feliz, já dirá com certeza que existe. E caso esse último sofra algum tipo de rompimento nesse relacionamento, se sentirá machucado e negará a existência de tal sentimento porque lhe é conveniente. E eu te pergunto, meu caro leitor: podemos negá-lo, mas será que ao fazê-lo, o amor realmente deixará de existir?
Apesar de todas as possíveis referências e leituras, recentemente descobri que ele não deixa de existir e que ele realmente existe. Ainda abstrato, mas pude finalmente vê-lo em algumas linhas que li na semana passada de uma carta que jamais foi enviada, aparentemente. Linhas escritas por um grande amigo, o Gregor, não sei exatamente quando, pois ele não colocou uma data no papel. Há uns dez dias, Gregor tomou um avião e cruzou o Atlântico, deixando para trás um apartamento repleto de muitas cartas, anotações e alguns cadernos com textos e poemas que ele escrevia de vez em quando. Ele sempre gostou de escrever e apesar de nunca ter se profissionalizado como escritor, ele escreve muito bem. Profissionalmente, de certa forma, ele também escreve, mas com tintas diferentes. Conta outras histórias. No papel, as histórias são sobre ele, quase sempre. Como um constante reprocesso de si através de papel e caneta esferográfica preta. Quando não são sobre ele, são sobre ele de uma outra forma. Lembra-se do que eu o disse? Não tem como ser sobre outra pessoa já que em nosso estado atual só podemos ter o nosso ponto de vista até que outras pessoas também o façam. E apesar desse inestimável material, ele não disse nada a nenhum de nós, jamais. Nem uma palavra. Dois dias após sua viagem, ele me ligou com seu típico tom de irrepreensível felicidade como se sempre existisse algo a mais a ser dito, dizendo apenas "Flávio, por favor, tire minhas coisas de meu apartamento e se quiser guardar algo, guarde, mas por mim, pode ir tudo o que há por lá para o lixo. Aliás, conto com você para isso!". Em pouco tempo vão colocar o apartamento para alugar, novamente e eu o entendo: Também preferiria ter tudo colocado no lixo, onde qualquer pessoa, qualquer estranho pode pegar o que (e se) quiser a deixar um grupo limitado de estranhos tomarem posse porque tudo estava disponível a eles.
E então, no dia seguinte à ligação, fui ao apartamento. Desde então, eu estou aqui. E, por Cristo, onde o Gregor estava com a cabeça? Uns móveis velhos e empoeirados podem mesmo ir ao lixo, mas suas raízes mais antigas estão aqui. Seus livros, discos, textos e fotografias permaneceram aqui. Não todos, eu imagino, não sei o que ele levou consigo, afinal. Quando eu entrei no apartamento, o cheiro quente de mofo quase me fez recuar. Prendi a respiração, corri para as janelas e as escancarei todas. Saí de volta ao corredor e aguardei alguns minutos até não mais sentir aquele ar viciado. Alguns poucos dias fechado e o lugar parece um porão. Em seguida, entrei e pude realmente observar o apartamento. Não pensei em muitas coisas, só me passou pela cabeça que as paredes precisavam de uma pintura e os móveis, de fogo. Desci até o carro e peguei algumas caixas de papelão. Subi de volta ao apartamento e me sentei junto a uma pilha de papéis do Gregor. Era estranho fazer isso porque parecia tão fúnebre e errado mexer em suas coisas, dessa maneira. Escolher o que deveria ou não ir ao lixo. Ele me disse que tudo iria, mas se ele estivesse aqui, com certeza não se desfaria de nada disso.
Separei os papéis por relevância. Simplesmente o que era relevante ou não. Certidão de alistamento? Relevante. Lista de compras com apenas dois itens: café e chicletes? Não relevante. Não era muito estimulante, admito. Até que, em um canto do quarto de Gregor, encontrei um par de cadernos, folhas soltas e algumas cartas recebidas, bem amarrados, com uma caneta prendendo o laço. Ao lado dessa pilha, mais ao canto, uma bola de papel amassada distraidamente, formada por uma porção de folhas. Era uma carta. Aparentemente não foi enviada, mas considerando o número de rabiscos e correções, pode muito bem ser um rascunho. Como eu poderia saber? Sentei-me no chão, apoiado à cama e coloquei-me a analisar o conteúdo do papel. Se relevante ou não. Ao ler a sua assinatura, ao final de todas aquelas páginas, corri de volta ao início. Não tinha data alguma. Não parecia tão antigo, só desgastado, como se lido e relido inúmeras vezes, dobrado, desdobrado e redobrado insistidas vezes, em sabe-se lá que momentos. Eu mesmo reli em seguida. Devo dizer que no momento, e desde então, não consigo pensar em nenhum outro referencial tão pessoalmente universal para expressar o amor como essa carta, que reproduzirei integralmente aqui.
Boa leitura.
"COMEÇO
Pronto. Não sabia por onde iniciar a escrever e lembrei que a melhor maneira de fazê-lo seria pelo começo. Esse foi ele.
Não sou muito bom com datas e esses sistemas popularmente aceitos para medir o tempo, você sabe bem disso. Mas, após consultar um calendário (agora eu tenho um!) percebi que já faz cerca de dois meses que nossa relação acabou, estamos distantes e não mais nos falamos.
Bosta. Esse começo todo soa tão austero, como se eu estivesse com a voz embargada, em lágrimas, com a barba mal-feita e cheirando à tristeza. Fico feliz em poder escrever que não estou. Fico feliz em poder escrever que não estou, mais. Essa carta pretende justamente expor isso. Não, não isso. Porque não é como um ato de orgulho absurdo ou uma tentativa meio patética de auto-afirmação pós-rompimento. Já superei isso também, da mesma forma que eu o fiz por causa de outros relacionamentos anteriores, com dito-insucessos incomparáveis ao tamanho do que senti quando eu a perdi. Droga, não gosto de dizer que eu a perdi, Camila, já que nunca realmente a possui. Isso não existe, sob nenhuma variável. Isso não existe simplesmente porque possuímos carros ou sapatos, mas pessoas, não. Por isso não gosto de dizer que eu a perdi. Mas, manterei o termo, na falta de palavra melhor. Para todos os efeitos, vou tentar abolir ao máximo as explicações ou possibilidades lingüísticas de cada palavra ou sentença que eu escrever. Acho que você me conhece mais que o suficiente e já sabe o quão literal e figurado cada termo é, para mim. Um paradoxo, sempre. E sob essa dúvida proposital eu vou me manter.
Por que estou escrevendo, afinal, você pode se perguntar. É uma dúvida razoável! Tive o impulso noutro dia e novamente esta manhã. E quando planejei isso, mentalmente, achei que começaria daqui porque aqui é o começo real. Então, mesmo que já esteja caminhando para a segunda página, sinta-se à vontade para considerar como começo o parágrafo a seguir — se faz necessário colocar novo parágrafo para ter uma continuidade aceitável.
Outro dia, pela manhã, acho que foi há uns dez dias, eu estava me vestindo para ir à padaria. Compraria algo para o café da manhã. Estava ouvindo uma canção qualquer que só estava realmente tocando como uma música incidental em um filme, para preencher um vazio sonoro que se apossou de lugares como meu apartamento, em tempos mais recentes. Passei rapidamente pelo espelho para garantir que eu ainda estava lá e parei em frente à parede em que penduro as fotografias. A rotatividade dessa parede é enorme e, ainda que de uns tempos para cá eu esteja um pouco desleixado e mais freqüentemente tirando fotos de lá do que pendurando, eu não pude deixar de notar que quase dois meses depois a sua foto ainda estava lá. Você consegue entender isso? Eu fiquei muito confuso, inicialmente, é claro. Nunca me habituei a você a ponto de não percebê-la ou sequer a venero platonicamente, o que seria perfeitamente compreensível. Se me permite explicar desse aspecto platônico (prometo que não vou me prolongar) e considerando o que eu defino como platônico, pessoalmente, eu não teria começado nem a escrever isso ou escreveria e, talvez, a carta nunca saísse daqui. Porém, concordo com absoluta franqueza que de platonismos vivemos e muitas vezes não percebemos que o fazemos com tantas pessoas diferentes. O viver platônico também é o planejar com antecipação acontecimentos, eventos e situações com as outras pessoas ou com o mundo. É gerar aquele mínimo saudável de expectativas, é um amor pelo viver e pelo fazê-lo pleno. PLA.TO.NIS.MO (fim do aspecto platônico).
Voltando à parede de fotos, encarei sua foto por longos minutos. Ela está lá entre tantas outras com ou sem relação direta —principalmente sem— e por alguns bons minutos me perguntei o porquê. Analisei tudo por um instante. Estou bem, estou feliz; a minha vida continuou como esperado e muito bem. Imagino que a sua também. Porém, sua foto, você, ainda está lá. Não tenho idéia de quantos minutos se passaram entre o momento em que a percebi em minha parede e cheguei a uma conclusão. Digamos que fora por dez minutos. Após dez minutos, então, entendi: Sua foto ainda estava ali porque eu não posso negá-la. Colocar em um arquivo e falar "hora de recomeçar". Não acredito em recomeços impulsionados por esse tipo de estímulos, eles seriam frágeis e falsos demais. Recomeços ocorrem o tempo todo, movidos pelo insignificante. Quando você o percebe como recomeço, provavelmente você já perdeu a primeira parte da história. Eu simplesmente não posso negá-la porque eu a amo, honestamente. Farei uma (nova) volta no tempo para ser mais claro.
Há cerca de dois meses eu estava em um dia tremendo. Por alguma razão que pouco importa no momento, eu estava radiante. Era um dia realmente espetacular! Aqui e ali existia aquelas preocupações diárias, mas meus ânimos estavam à flor da pele. No final da tarde, meu celular soou por um instante. Era uma mensagem sua. Ao ver seu nome ali, no visor, já sorri largamente e abri a mensagem. Não me lembro os motivos para o dia ter sido tão bom, o que eu vestia nem qual era o clima daquela tarde. Me lembro apenas com clareza de suas palavras na mensagem: "Eu acho que eu não te amo mais". Vê? Ainda agora elas parecem tristes, sinceras e cinematográficas e, no momento, eu fiquei em choque. Após algumas mensagens, nos encontramos e conversamos melhor, mas o que eu poderia fazer? Um problema com a maneira que eu falo com seus amigos é uma coisa. Ou, uma suposta inadequação de meu comportamento em relação a um problema seu ou de alguém próximo (E para tanto, modestamente peço perdão por essas atitudes infantilóides que tantas vezes tive). Mas, o que fazer quanto alguém simplesmente não te ama mais? O amor está sob constante mutação e, assim sendo, sob constante definições de autores, artistas e pessoas em geral. No entanto, ele pode acabar? Eu realmente não vejo por que não já que você não pode medi-lo, mas quando você ama, você sabe que ele está lá, então, quando você não o percebe ali, provavelmente ele acabou. Uma vez, durante uma crise, você me questionou "Já ocorreu contigo? De repente, sem razão aparente, já te aconteceu de descobrir que um dia você simplesmente não ama a pessoa que você deveria amar? Porque você está cansado demais ou ocupado demais ou apenas porque não conseguia mais sentir?".
A coisa toda é tão complexa que eu fiquei atordoado por um tempo. Saía com diversas outras mulheres, procurava esquecê-la, apagar o amor que eu ainda sentia por você. Todo dia surgia uma nova teoria e conseqüente experiência que faria o amor "acabar" e, no final do dia, era tudo ridiculamente em vão e eu me sentia realmente estúpido, inserido em todo esse clichê.
E o problema desse clichê é que quanto mais pessoas você envolve em algo assim, mais pessoas são machucadas; Mas, inicialmente foi bom, claro. Só que assim como isso veio, se esvaziou; eu preferia não estar mais ali, no meio daquelas pessoas, sorrindo como um imbecil e me enganando daquela maneira. Quando notei que enganava tantas mulheres proporcionalmente à necessidade de você, parei com aquilo tudo, por um tempo. Não tinha efeito algum. Estava tão entretido por aí que esqueci realmente de mim. Quando consegui, parei. Respirei. Olhei para mim. E estava tudo lá, ainda. Uma mágoa de amar e saber que não é amado de volta. Busquei amparo em canções e sofria silenciosamente. Me peguei com uma freqüência maior do que consideraria ideal balbuciando canções como Ne Me Quitte Pas tal qual um mantra, oculto sob essa aparente e costumeira impassibilidade (ou quem sabe frieza) de minhas atitudes, no meu dia-a-dia. Mas eu permanecia completamente vulnerável. Ouvi as canções que me lembravam de você e vi filmes também. Lembrava de seus comentários sobre dadas cenas como se fosse uma daquelas opções extras de áudio e, movido pelo meu usual otimismo eu tentava me convencer de que ainda que tenha sido um duro fim, foi incrível enquanto durou.
Hoje, eu vejo como isso foi um erro e percebo que é um erro muito comum. Claro, você deve se apegar ao que valeu a pena, porém um dia eu me questionei: Então foi isso que valeu a pena? E aqui, vejo agora, foi um verdadeiro recomeço, não no sentido de ignorar que você existiu, mas algo mais próximo de ignorar como eu agi após o fim.
Pensei por alguns dias e, nessas reflexões e auto-análises constantes, encarando tudo sob a mesma ótica, consegui separar bem o saudosismo e a memória do valor real desse amor que eu ainda sinto, pra mim. Conclui que sim, eu te amo e eu te amo mesmo. Eu te amo e não é preciso que você me ame de volta porque seria um tremendo erro pedir que o faça só para cumprir uma vaidade minha. Entendi que eu te amo porque o amor que você deu pra mim e eu sinto ainda por você é muito maior que o amor que se pinta por aí. E eu o subestimei esse tempo todo. É algo muito além. Por te amar tanto, aprendi a viver em função do amor. Aprendi a ser uma pessoa melhor e aprendi que as pessoas de uma maneira geral têm tanto medo de ficarem sozinhas que se submetem a viver sem amor. E quase em uma torrente de otimismo e auto-ajuda, o amor-próprio já é uma manifestação real de que a solidão não é um problema em si e que estar sozinho não significa que você está solitário.
É fácil, tão fácil, acabar com um relacionamento e negar a pessoa, negar o amor que você sente pela pessoa e assim, procurar seguir em frente. A beleza da coisa está em justamente encarar o amor ou o ódio e ver o quão isso realmente faz parte de você. No calor do momento você não consegue separar nada, mas é possível e é realmente gratificante fazê-lo.
Falei que posso entender o amor como algo finito. Contudo, particularmente, eu digo que ele não tem fim. Acho curioso notar que cheguei a discutir isso com um amigo e ainda que eu tivesse parte disso em mente, ainda me chateava um pouco. Ele me falou algo que soa um tanto radical, à primeira vista, mas que complementa perfeitamente o que escrevi há pouco. Considerando que o amor não tem fim, um dia descobrir não mais amar, por exemplo, indica que o amor nunca existiu, de verdade. Parece egoísta demais e aqui deixo a decisão pra você caso um certo grau de egoísmo é bom ou não. Em minha opinião, sem o egoísmo não há nada. Egoísmo é o nome feio dado para algo que pode ser bonito, sob as proporções devidas, claro! Honestamente, pense na palavra, independente de tudo que ela significa pra você: EGOÍSMO. Descartemos o ismo, ismos nunca são saudáveis, são comportamentos obsessivos, vícios. E então? O que temos? EGO. Eu. Droga, em que momento a nossa sociedade conseguiu transformar algo tão próprio e bonito como o EU em algo pejorativo ou errado ou em um comportamento obsessivo? Não há apenas certo ou errado, assim como as pessoas não precisam ser personagens ególatras e viciadas em si por tentar manter um mínimo de individualidade. Poderia me estender por páginas e mais páginas, dissertando sobre religião, educação, moral ou política. Todos esses factóides sob o meu ponto de vista, o que acha? Ninguém leria esse lixo, claro. Nem mesmo eu. Por isso não chegarei tão longe. Mas, eu devo dizer que essas esferas sociais e tantas outras são sempre amplamente difundidas mas tão, tão pouco pensadas, pra valer. Pensadas, pra valer. Pensar, pra valer, demanda tempo e energia assim como pensar, pra valer em si mesmo como o centro do mundo, de seu mundo ao mesmo tempo em que pensar os outros como outros centros do mundo, dos mundos deles, parece profundamente entediante quando um programa de vinte e dois minutos é exibido em trinta e sua única preocupação é com o volume de sua televisão. Não há espaço para si e, por mais que eu simpatize com a televisão, o dito aproveitável é mínimo e esse vazio transmitido tem massa o suficiente para preencher e atordoar a mais prolífica das mentes. Por isso eu considero o egoísmo, esse egoísmo parafraseado, o meu egoísmo, algo que pode até ser um pouco romântico. Aliás, ando tão maravilhosamente egoísta que clamo o egoísmo de meu porque o egoísmo de uso típico, por definição é feio e meio ocre, meio verde. Cheirando a madrasta de contos infantis. É o vaso de terra jogado no chão recém-limpo para que a princesa não consiga terminar a faxina a tempo de ir ao baile. O meu egoísmo poderia ser esse "amor-próprio" ou qualquer coisa que quiserem chamar. Um nível moderado de egocentrismo é tão benéfico como uma xícara de chá no final de um dia desgastante. O meu argumento é que todos, sem exceção, todos nós, seres humanos, somos auto-suficientes. Absolutamente auto-suficientes. Já li que não somos auto-suficientes ou que precisamos dos outros pra viver. Isso é uma mentira gigantesca. Nos convenceram assim, mas prefiro ver a verdade nas linhas de: não precisamos das outras pessoas, nós as apreciamos ou as admiramos, mas isso é diferente de precisar porque precisar indica uma necessidade de suprir algo que falta em você. Sendo você auto-suficiente, se trata de uma reação impulsiva, quase humilhante, talvez e precisar, nesse sentido, só pode resultar em algo realmente terrível, o descarte. Por favor, não seja simplista, Camila. Não aqui. Não seja simplista sobre a definição de precisar. Se você tem um problema com a fiação da sua casa, você precisa de um eletricista. Esse precisar é justamente o oposto do precisar a que me refiro. Vou me apoiar em um exemplo mais concreto e genérico: "Casal se conhece, se apaixona e namora. Entre as juras de amor, rapaz diz à moça (ou vice-versa) que a 'ama' e que precisa dela. Diz que estava incompleto, mas que ela o fez completo, que não imagina a vida sem ela, etc., etc." e aí o que segue é uma espécie de gratidão misturada a tantos outros elementos que permeiam uma relação. E não me entenda mal, tantas vezes eu ou você ou qualquer um no planeta pode e deve se sentir grato e os motivos que geram essa gratidão não precisam de forma alguma ser incensuráveis, mas acredito que a gratidão seja temporal. Ou limitada, pelo menos. Temos uma mania meio cristã de eterna gratidão, mas de rancores efêmeros o que é, no mínimo, incongruente. Se devemos perdoar e esquecer as ofensas, por que devemos viver dois mil anos sob a sombra de uma gratidão?
Vivemos tão imersos nessa gratidão de coisas passadas em relação a outras pessoas sem diferenciar se o que sentimos é uma sensação real ou compulsória. Fala-se em banalização do amor, mas no fundo banaliza-se a gratidão, a necessidade, o meio, a mensagem, eu e você. Uma auto-banalização. Há a gratidão, mas por que viver em função dela? De volta ao exemplo, o precisar-gratidão é aquele erro extremamente comum que cometemos, cada qual à sua freqüência. Precisamos das outras pessoas, seja para satisfação ou para aprendizado porque somos auto-suficientes sim. Porém, eternamente incompletos. Se você aprende algo com alguém, você pode sentir-se grata à pessoa porque ela a mostrou algo que a completou em um sentido, mas isso não significa que a pessoa a completou. Há sempre essa confusão. Somos insuficientes em saber pois nos expandimos a todo segundo enquanto vivemos então, há sempre uma lacuna a preencher. Mas, se confunde essas lacunas com incapacidades. E rapidamente nos descobrimos capazes em função de outras pessoas. Precisamos de outras pessoas porque elas nos completam e quando nos vemos distantes ou sem essas pessoas, temos a sensação de vazio, de que estamos perdidos ou apenas solitários. É um vazio, mesmo. Porque nos preocupamos tanto com gratidões eternas ou com a busca do outro por vaidade que o que você poderia ter aprendido foi apenas repetido, como uma cartilha com as palavras pré-tracejadas. Você traçou as palavras e entendeu como funciona, mas se retiram a cartilha e os esboços a preencher, você conseguirá pensar por si só e reescrever algo além daquelas palavras?
De volta ao amor.
Falei que o amor está sempre em mutação. Falei que subestimei o amor que senti por você, colocando-o sob os parâmetros do amor que é difundido em todos os lugares de como é o amor. Já em explícita contradição, eu a digo que de tudo o que se fala do amor, nada deve ser levado em consideração simplesmente porque não há uma regra. Digo-lhe agora que essa mutação e transformação é a causa dos desentendimentos que levam casais a se separarem sob a acusação de que o "amor acabou". Basicamente, ele se transformou e se transformou em algo diferente do que eles tinham em mente. Ele não acabou, mas tampouco é aquele amor. Não é maior ou menor. É diferente, apenas e as pessoas têm medo do diferente. Como se paralisadas pela própria condição mutável de si mesmas e que dificilmente é aceita (por alguma razão as pessoas se orgulham de "ser" enquanto a beleza reside justamente no "estar"), as mudanças vão sendo negadas, mas negá-las não as faz deixar de existir. Cabe aqui enfatizar uma regra que considero universal, até que se prove o contrário: Negar não anula a existência de nada. Apenas adia o confronto. Então, por que se dar o tempo de negar se você sabe que é inevitável? (Não confunda, por favor, com destino ou nada assim. Falo de lógica humana e consciência da conseqüência dos próprios atos e ações. Não sei se existe tal coisa como o destino. Sempre me parece outro comodismo anestésico para justificar o que você não conseguiu prever e, prolongando esse parêntese mais do que o previsto, não acho que tudo seja previsível porque são os toques de imprevisibilidade [quem sabe o caos?] que prevalecem em nosso dia-a-dia. Contudo, me volto agressivamente contra o oposto absoluto, que seria o tal destino, em que não temos nenhum controle sobre nós ou nossas vidas porque tudo está predeterminado. Considero essa posição pretensiosamente inocente. Até talvez inaceitável. E o problema é que, na maneira que as relações foram estabelecidas em nossa sociedade, se você volta-se absolutamente contra esse comodismo do destino e começa a agir permanentemente e automaticamente por si sob suas próprias regras, você é igualmente comodista, apenas à sua maneira).
Se em um casal as duas pessoas negam as suas próprias mudanças e a mudança do amor, segurando-se à outra desesperadamente, como uma espécie de corrimão espelhado, simultâneo e recíproco, culminará em dado momento que elas se apoiarão apenas na gratidão de tempos passados sem nenhuma perspectiva de futuro. A mudança é um crescimento e assim como sempre temos novas lacunas e necessidades a preencher, a mudança nos possibilita suprimi-las da melhor maneira possível. Se adiarmos a mudança, ela se acumula e simultaneamente ao enfraquecimento do relacionamento, ela gradativamente ganha força e um dia, quando somos obrigados a nos deparar com o inevitável, os corrimãos parecerão correntes e o relacionamento um suplício. "O amor acabou", simplifica-se. E agora eu consigo olhar melhor pra isso e repito: Não acabou. Não acaba. O amor simplesmente não acaba. Ele se transforma, cresce e quando o subestimamos, como freqüentemente o fazemos, ele parece fraco ou inexistente. Mas, é como ler e reler uma mesma linha diversas vezes ou repetir a si mesmo uma única palavra até que em um jamais vu, ela parecer completamente estranha e desprovida de qualquer razão. É uma fadiga da redundância. Se somos acometidos desse tipo de fenômeno em situações absurdamente corriqueiras, Camila, o que nos impede de sofrermos de reação semelhante frente ao costume de amar?
Disse, no início que nunca me habituei a você a ponto de não a perceber, Camila. Percebo que menti, de uma certa forma. Nunca me habituei a você a ponto de permanecer indiferente à sua presença, mas me habituei a amá-la sem realmente perceber o quanto eu, você e o amor mudamos. O começo então, está aqui. O que eu deveria ter escrito há dez dias e só estou redigindo agora. Droga, o que eu deveria ter escrito ou eu deveria ter percebido há dois meses. Não. Eu deveria ter percebido isso antes do tal fim. Talvez, ter percebido isso antes não seria motivo o suficiente para continuarmos juntos, há momentos que, devido às mudanças e alterações em mim, você, no amor e no mundo todo, conseguimos perceber que simplesmente não há mais razões para ficarmos juntos. Eu vejo isso agora, parece-me perfeitamente lógico estarmos separados por razões já descritas aqui e tantas outras que eu jamais conseguirei definir. E para tanto, eu a estou escrevendo, não para parecer orgulhoso ou mesquinho nem nada disso. Sequer me vejo vaidoso ao escrever essa carta porque ela é o sentimento mais puramente honesto, sincero e pessoal que eu poderia tentar exprimir. E movido por este excepcional amor que sinto, sem gratidões eternas ou quaisquer enganações, eu honestamente digo:
Obrigado.
O amor, o meu amor é, por definição, toda essa indefinição.
Do sempre seu,
Gregor."
20080419
[Auto] Sabotagem
Chegando em casa, tirei o tênis e, apesar de não estar visivelmente ferido, eu não conseguia pisar muito bem. Andava pra lá e pra cá, mancando um pouco, como naquelas piadas de manco, dizendo "deixa que eu chuto, deixa que eu chuto" ou "tô fundo, tô raso, tô fundo, tô raso". Considerando que instantes antes do incidente da pedra, no carro, tive uma cãibra mal resolvida na panturrilha direita que, também incomodou um pouco durante o dia e eu fui dormir certo de que hoje de manhã estaria bem porém está realmente dolorida e pior do que ontem, estou em um final de semana manco e auto-sabotado.
Já sabia que não seria dos mais animados devido a acontecimento durante a semana, a maioria em relação ao TCC mas isso já é demais. Não devo me irritar. Não estou irritado. Estou irritado. Estou irritado por estar irritado quando não deveria estar. Claro, a pedra seria absolutamente evitável, é o tipo de situação que se você pensar um pouco, o mínimo, você percebe que não vai acabar bem simplesmente porque enquanto não acontecer alguma merda você vai continuar chutando a pedra ou passando o dedo no fogo.
Tenho um histórico de chutes em pedras com os tais efeitos surpresa. Certa vez, chutava uma pedra em um parque ou coisa que o valha. Metros à frente tinha uma senhora caminhando solitária com seu guarda-chuva. Ela não estava na minha frente exatamente, estava mais à direita ou à esquerda. Chutei a pedra em linha reta. A pedra salta com graça em linha reta. Quica e quica e quica e, num quarto quique, encontra uma deformação no terreno, desvia seu trajeto e acerta em cheio o calcanhar da velha. A velha se encolheu, num urro furioso, levando a mão ao calcanhar. Eu, Demétrius D., 16 anos, muito maduro e constrangido, mudei o trajeto em 180º. Hoje eu falaria com a senhora e tomaria a bronca numa boa mas não sei se é minha memória que colocou detalhes a mais para romantizar ou justificar a fuga mas aquela velha ficou realmente contrariada com aquilo tudo e eu sabia que ela bateria com o guarda-chuva em mim. E eu falei que ela soltava fogo pela boca? Pois é. Eu poderia não estar aqui escrevendo isso, até. Outra vez, caminhando à noite, início de madrugada e com muito sono, chutei uma pedra da calçada e pude ouví-la gritar. Enfim.
A pedra era evitável. Já a cãibra, não. Mas a ressaca da cãibra na panturrilha direita seria tranqüila sem a dor no pé esquerdo. Ou seja, é uma grande sabotagem. Uma grande, estúpida e feia sabotagem de mim.
De que me adianta todos conspirarem para me fazer feliz quando eu consigo, sozinho, estragar tudo?
Aliás, acabei de perceber algo. Vamos às palavras-chave que apareceram aqui no Pinbal Mutante durante a última semana, sim?
conspiração
sabotagem
paranóia
Ótimo. Era bem o que me faltava.
20080418
Bang bang,
20080415
Diagnóstico:
20080412
Ruído
À noite, fui ao Cinesesc. Há um festival dos Melhores Filmes de 2008 e foi exibido o Império dos Sonhos (Inland Empire) do David Lynch. Já tinha visto o filme e é incrível. Com essa chance de ver no cinema, novamente e sob pretexto do TCC — a minha monografia será sobre sonhos com um estudo de caso do David Lynch —, fui. O filme acabou meia-noite e qualquer coisa. Sem chance de voltar para casa, ficamos em um bar até os transportes públicos voltarem a circular.
Eu tinha uma palestra na DRC sobre o InDesign CS3 para ir. Marquei isso há um tempão e estava realmente disposto a ir. Queria ter voltado cedo pra casa justamente por isso mas eu estava sem chances de voltar. Cheguei em casa às sete horas e a palestra seria às dez. Eu cheguei em casa com o sono acumulado de dois dias conturbados e ruidosos e eu estava realmente, realmente cansado. No caminho para casa eu pensei "Vou chegar, tomar um banho e já ficar pronto pra ir". Chegando em casa, percebi que nem bem conseguia sentir minhas pernas e decidi dormir um pouco. Por apenas trinta minutos, para esticar as pernas. Caso contrário, minhas pernas poderiam ceder, eu cairia em algum lugar e acabaria dormindo ali mesmo então, me coloquei na cama. Aí, dormi.
E dormi forte.
Acordei às 10h26 em choque, puto, puto, puto. Perdi a porra da palestra. Sou um irresponsável do pior tipo. Lembrei que quando o celular tocou, eu estava naquele estado de sonhar acordado. Nesse estado de uma forma bem acentuada. Lembro de um barulho absurdo, ridiculamente irritante. E eu não conseguia achar o botão, qualquer botão do celular. Eu apertava as costas do celular insistentemente, tentando cessar aquele barulho. Uma tristeza.
Enfim, perdi a maldita palestra. Diabos. E então... Que remédio?
Dormi até o meio-dia.