20080419

[Auto] Sabotagem

Eu sou um cretino, um imbecil. Ontem, tinha uma pedra no meio do meu caminho. Uma pedra bonita, do tamanho de um pêssego. Eu chutei com a ponta do pé, sem muita empolgação. Ela rolou. Um segundo chute e ela rolou mais um pouco para frente. Resolvi chutar com força pra vê-la correr pra longe. Acertei a pedra e ela foi um pouco mais longe. Por alguma razão, eu chutei com a sola do pé. Futebol nunca foi meu forte e, logo após o chute, doeu. Incomodava um pouco mas tudo bem.

Chegando em casa, tirei o tênis e, apesar de não estar visivelmente ferido, eu não conseguia pisar muito bem. Andava pra lá e pra cá, mancando um pouco, como naquelas piadas de manco, dizendo "deixa que eu chuto, deixa que eu chuto" ou "tô fundo, tô raso, tô fundo, tô raso". Considerando que instantes antes do incidente da pedra, no carro, tive uma cãibra mal resolvida na panturrilha direita que, também incomodou um pouco durante o dia e eu fui dormir certo de que hoje de manhã estaria bem porém está realmente dolorida e pior do que ontem, estou em um final de semana manco e auto-sabotado.

Já sabia que não seria dos mais animados devido a acontecimento durante a semana, a maioria em relação ao TCC mas isso já é demais. Não devo me irritar. Não estou irritado. Estou irritado. Estou irritado por estar irritado quando não deveria estar. Claro, a pedra seria absolutamente evitável, é o tipo de situação que se você pensar um pouco, o mínimo, você percebe que não vai acabar bem simplesmente porque enquanto não acontecer alguma merda você vai continuar chutando a pedra ou passando o dedo no fogo.

Tenho um histórico de chutes em pedras com os tais efeitos surpresa. Certa vez, chutava uma pedra em um parque ou coisa que o valha. Metros à frente tinha uma senhora caminhando solitária com seu guarda-chuva. Ela não estava na minha frente exatamente, estava mais à direita ou à esquerda. Chutei a pedra em linha reta. A pedra salta com graça em linha reta. Quica e quica e quica e, num quarto quique, encontra uma deformação no terreno, desvia seu trajeto e acerta em cheio o calcanhar da velha. A velha se encolheu, num urro furioso, levando a mão ao calcanhar. Eu, Demétrius D., 16 anos, muito maduro e constrangido, mudei o trajeto em 180º. Hoje eu falaria com a senhora e tomaria a bronca numa boa mas não sei se é minha memória que colocou detalhes a mais para romantizar ou justificar a fuga mas aquela velha ficou realmente contrariada com aquilo tudo e eu sabia que ela bateria com o guarda-chuva em mim. E eu falei que ela soltava fogo pela boca? Pois é. Eu poderia não estar aqui escrevendo isso, até. Outra vez, caminhando à noite, início de madrugada e com muito sono, chutei uma pedra da calçada e pude ouví-la gritar. Enfim.

A pedra era evitável. Já a cãibra, não. Mas a ressaca da cãibra na panturrilha direita seria tranqüila sem a dor no pé esquerdo. Ou seja, é uma grande sabotagem. Uma grande, estúpida e feia sabotagem de mim.

De que me adianta todos conspirarem para me fazer feliz quando eu consigo, sozinho, estragar tudo?

Aliás, acabei de perceber algo. Vamos às palavras-chave que apareceram aqui no Pinbal Mutante durante a última semana, sim?


conspiração
sabotagem
paranóia



Ótimo. Era bem o que me faltava.