20080128

Pensamento positivo

Na pior das hipóteses, eu acordei na hora e já vou sair de
casa para chegar a tempo na gráfica safada para então
chegar no lugar para apresentar meu porta-fólio.
Preferencialmente a tempo. O que, considerando
as possibilidades, seria um
bônus.

20080127

[POSFÁCIO] Jeová não mora mais aqui

"Devia ser uma história religiosa, porém termina puritana. Sinto que você o censura por todos os 'Que se dane'. Acho isso errado. Quando ele, Les ou qualquer outra pessoa diz 'que se dane' para tudo, não será isso simplesmente uma forma inferior de oração? Não consigo acreditar que Deus reconheça qualquer tipo de blasfêmia. Essa é uma palavra medrosa, inventada pelo clero."

J.D. Salinger
(Mais uma vez)

Jeová não mora mais aqui

Devem ter aberto uma igreja nova aqui nas redondezas porque não é possível. Ontem, pela manhã, dois senhores batem à porta. Um silêncio mortal caiu sobre a casa. Minha mãe olhou rapidamente por uma fresta da janela e viu que eram testemunhas de Jeová. Ela tomou um café, folheou o jornal e deu mais uma olhada. Eles ainda estavam plantados no portão. Ela saiu para o quintal com tom de poucos amigos. "Pois não?" e eles perguntam "Bom dia, podemos falar com a senhora por uns minutinhos para--" "Não, não podem não", ela já falou de uma vez. Eu não vi a expressão deles porém ela disse que eles ficaram meio sem reação e tudo, agradeceram e foram embora.

À tarde, mais no final da tarde, a campainha toca. Eu fui atender sem olhar quem era. Incrivelmente era um outro maldito testemunha de Jeová, dessa vez um bem jovem. Entre as coisas que passam pela sua cabeça quando você recebe dois testemunhas de Jeová no mesmo dia, acho que posso citar "Castigo divino", "Preciso achar um exorcista", "Cadê esse Deus que eles tanto falam?", "Se eu atender mais dois testemunhas de Jeová eu ganho uma Bíblia de brinde?" e "Jeová. Je-O-Vá. Je. Oooo. Váááá. Nome gozado". Porém, só disse um Boa Tarde. Achei engraçado porque o rapaz era realmente jovem. Por um momento pensei em perguntá-lo quantos anos ele tinha mas então considerei que eu mesmo só tenho vinte e se eu o perguntasse quantos anos ele tinha, afinal, soaria como se eu fosse uma dessas pessoas velhas que ao ouvir que a outra pessoa é muito mais jovem erguem as sombrancelhas e suspiram com arrogância como se dissessem, com um tom falsamente condescente "Ah, meu jovem. Eu já passei dessa fase" como se a velhice fosse o ponto máximo de alguma sabedoria tão mística e inacessível para outras pessoas de mais tenra idade. Mas estimo que o rapaz tinha aproximadamente a minha idade ou no máximo dois, três anos mais novo. Outra coisa que denunciava sua inexperiência na arte de catequizar índios, digo, espalhar a palavra de Jeová era que ele era um pouco tímido. Gaguejava um bocado e não agüentava me olhar nos olhos por muito, ficando sem palavras e olhando para o lado para reencontrá-las.
Ele me mostra umas perguntas num livro que achei que fosse uma Bíblia mas não, eram aqueles panfletos que mostram pessoas no paraíso, comendo de uma mesa farta enquanto leões e avestruzes, cachorros e crianças correm e brincam por um lindo campo verdejante. Eram centenas desses panfletos, encadernados. Mostra aquelas questões do tipo "por que estamos aqui?" ou "existe vida após a morte?". Me pergunta se eu já tive alguma dessas dúvidas (eu sou um ironista da pior espécie, meu cérebro deve ter uma parte especial para ironia e afins porque junto do raciocínio lógico, automaticamente, há algum comentário inadequado. É bárbaro! Só que aí eu pensei em como é desgradável questionar as pessoas pela sua fé e tudo ou mesmo ridicularizar algo que a pessoa realmente acredita. Decidi me segurar) e eu respondi que já sim, claro.
Ele me pergunta qual delas eu gostaria de saber a resposta. Olhei bem no fundo dos olhos dele porque achei isso meio presunçoso e voltei os olhos para aquelas perguntas de 20 reais. Achei tudo meio bobo naquele momento e disse "Agora, assim, não me interessa nenhuma delas. Essas são aquelas questões que surgem porque estamos aflitos ou coisa que o valha. Agora, não estou aflito" o que era uma mentira. Tinha todo o drama do porta-fólio em cima da minha cabeça mas juro que entre as questões não estava "Não consegui imprimir meu porta-fólio. Estou condenado a queimar no inferno?". Ele me olhou e disse "E o que acontece com seus entes queridos, familiares e amigos depois que eles morrem, você sabe?" e eu disse "Eles morrem, ué. Finito." e aí ele gaguejou um pouco, espremeu algumas sílabas confusas e em resumo, não era bem aquilo que ele tava falando. "Ah. Você tá falando do negócio de vida após a morte?", perguntei, e ele falou que era. Então ele começou a contar uma história fantástica sobre todo mundo que morreu ser julgado e então os bons voltarão para viver uma eternidade feliz e os maus serão eternamente castigados ou mortos logo de cara ou algo assim. Para interagir, ele me pergunta "não seria ótimo se algum parente seu que morreu voltasse à vida e viesse ao seu encontro novamente?". Pensei em quem eu conheci que já morreu e há quanto tempo isso aconteceu. "Depende do estado de putrefação", respondi.
Não resisti. Pensei em seguida Se eles são as testemunhas, eu sou o promotor! e sorri por dentro. E o que se seguiu foi uma porção de levantamentos tão fantásticos quanto o outro e a cada vez ele citava um trecho da Bíblia, versículo e tudo, abria no tal trecho e me apontava com as mãos trêmulas enquanto lia, devorando vírgulas e fazendo tom de profecia a cada ponto final. Pensei em perguntar sobre isso também, como eles conseguiam saber os trechos mais convenientes da Bíblia na ponta da língua sendo que eu só consigo manter memorizado um CEP e se eu leio outro preciso me concentrar pra trazer o meu de volta. Mas não tinha essa questão no começo. Depois que ele falou que Deus colocou Jesus em Maria, ainda virgem, ele colocou um manto, invólucro ou coisa assim ao redor de Jesus na barriga da Maria para Jesus não entrar em contato com a imperfeição de Maria. Sensacional! Falou um pouco mais de como o homem é imperfeito e tudo e eu perguntei se a Bíblia foi escrita por homens, portanto seres imperfeitos, por que diabos ele se baseava nela tão firmemente, porque no final das contas eles falam da palavra de Deus mas passou por esse filtro imperfeito. Obviamente ele tinha um trecho para apontar. Um trecho em que um cara escreveu "E todas as palavras aqui escritas não foram alteradas pela percepção do homem, não há nenhuma interpretação se não as palavras de Deus" ou algo assim. Acho que isso figurou entre as justificativas mais pífias de todos os tempos. Conveniência total.
Eu o disse que isso era conveniente, que eu mesmo poderia escrever absolutamente qualquer coisa e então falar que não fui eu, que Deus quem escreveu e eu só servi de caneta. É como aquele filme ruim que passa à noite na TV que se justifica dizendo que foi baseado em fatos reais. Eu o falei que, honestamente, a Bíblia fala de coisas coerentes e coisas incoerentes porém ela não era, em absoluto, prova de alguma coisa porque a fé não depende de provas, ou você acredita ou não. A fé não é concreta mas uma Bíblia é e é irreal que algo tão vasto e inexplicável como a fé tenha como prova um livro velho e extensamente traduzido e modificado ao longo dos tempos. Citei que há traduções ou mesmo edições originais de livros publicados há um século que foram tão adaptados ou reeditados que pouco a pouco as palavras se perdem e orações ganham outro sentido.
Ele me olhou por um instante. Parecia um pouco sem palavras. Pensei que tinha vencido. Então ele conta sua experiência pessoal, que ele também pensava assim quando ele via a mãe estudando a Bíblia e que hoje em dia a compreende e compreende melhor a Bíblia, não pensando mais assim. Ele fez o mesmo tom falsamente condescente que eu citei que me ocorreu quando vi que ele era tão ou mais jovem do que eu. Mas no caso, o tom era menos "ah, meu jovem" e mais "Ah, meu caro. Eu também já fui um infiel nojento sem nenhuma crença". Primeiro fiquei puto, claro. Depois achei engraçado porque ele falou que a Bíblia é verdade porque ela contém profecias escritas há tantos anos e que estão se realizando agora, claro, apontando um outro trecho, versículos x e y. O trecho era aquele de que nação se levantará contra nação e etc. Diante da minha cara incrédula, ele já se corrigiu falando que não é de hoje que o homem entra em guerra, "Porque esse trecho fala de guerra entre nações diferentes, nações contra nações", ele tenta me explicar porém, o negócio daquilo ali era que a Bíblia já tinha dito que seria assim. E puxando outro trecho que dizia algo como "No final dos tempos, o homem amará mais a si mesmo do que a Deus ou aos outros. Será infiel, desleal, ambicioso e tudo o mais. Passará fome, causará a morte e isso levará a sua destruição" - Note que eu não lembro com exatidão do trecho, só o sentido geral.
Ele me questiona em um tom convencido se não era verdade que hoje em dia muita gente passa fome e tudo.
Citei que no século XIV, a população mundial conhecida até o momento era tão vasta e tão populosa que muita gente passava fome e havia um racionamento constante de alimentos. E as pessoas brigavam por isso. Então, em 1347 quando houve a epidemia da Peste Negra, em apenas três anos a população foi derrubada em 50%, para cerca de 22 milhões de pessoas. No período, houve conflitos inúmeros para achar um culpado pela causa de tantas mortes. Quando a epidemia acabou, e a população sobrevivente e saudável consideravelmente mais magra, houve fartura e de repente quem trabalhava no campo tinha se tornado dono de terras e os donos de terras, dito nobres, não tinham quem trabalhasse para eles o que os obrigou a ter de produzir seus próprios alimentos. Como não tinham muita prática, preferiram pagar à "polícia" do tempo para que invadisse e saqueasse quem produzia alimentos e etc. Os policiais então desenvolviam novas técnicas de persuasão, inclusive o escalpo, ou seja, novos conflitos. Primeiro conflitos pela escassez, depois conflito pelo doença, depois conflito pela fartura - eu só sabia disso tudo porque na noite anterior eu tinha assistido a um ótimo programa do History Channel chamado "A Peste" que falava desse período todo.
Ele falou algo como "entendo seu ponto de vista" da mesma maneira que um atendente de telemarketing sempre o entende de forma a manter um tom pacífico na conversa. Eu falei, que sim, o era - comecei a sentir aquele sentimento mais questionador tomar conta sem perceber - porém de acordo com o tal trecho, aquele monte de desgraça se daria no final dos tempos. Então quer dizer que o homem sempre esteve no final dos tempos, não fazia muito sentido dizer que o final dos tempos é agora porque conflitos de todos os tipos sempre foram parte da história do ser humano e eu tinha acabado de citar um exemplo perfeitamente concreto do que, naquela época também se falava de final dos tempos.
Nisso, o telefone daqui de casa tocou. É uma técnica antiga, aqui. Quando algum de nós é pego por um Testemunha de Jeová, quem está a salvo dentro de casa liga do celular para o telefone fixo, fazendo-o tocar e te dando o álibi perfeito e socialmente adequado para se retirar.
Eu fiz menção de que precisava entrar para atender ao telefone e ele disse "Mas você tem que concordar que hoje em dia os conflitos e guerras e problemas do homem são muito maiores do que aquele época, não são?" e eu disse "Não sei dizer, eu não vivi aquela época, eu não tenho nenhum parâmetro para comparar. Agora, com licença, que eu realmente preciso atender o telefone".
Ele perguntou meu nome. Eu respondi. Ele então me perguntou se ele poderia voltar semana que vem para conversarmos mais. Eu perguntei o nome dele. Ele respondeu. Eu falei "Não sei se vou estar em casa semana que vem mas pode vir".
Semana que vem não atendo à campainha sem olhar por uma fresta.

O que nos traz ao dia de hoje, domingo. Hoje, agora pela manhã, a campainha tocou novamente. Eu olhei. Duas senhoras e uma moça caracterizadas a caráter e armadas com suas bíblias e livretos. De novo. Terceira vez no mesmo final de semana. E vi que muitos outros testemunhas de Jeová estavam pela rua. Minha rua é sem saída, ou seja, com certeza eles acamparam na única extremidade de fuga. Não baseio isso em fatos. Se fato fosse, eu teria que ter saído na rua para ver e provavelmente eu não estaria aqui escrevendo isso. Em dois dias escreveria sobre versículos inúmeros e em uma semana, o nome do blogue mudaria de O Pinball Mutante para O Bingo de Prendas. Ou Críquete de Jeová. Não sei bem ainda.

No momento, fica assim mesmo.

Eles têm seus versículos na ponta da língua e eu tenho minha própria crença que cito da mesma maneira.
E assim O Pinball Mutante continua.

Grafia

Esqueci de citar no outro post mas considero isso realmente útil porque quando eu pesquisei me deparei com esse site que me ajudou muito então vale um post novo.

Portfolio, portifólio e portfólio… qual a grafia correta?


Basicamente tira aquela dúvida sobre a maneira correta de se referir ao seu conjunto de trabalhos.

Daí só depende de você não deixar a impressão do recheio para a última hora.

20080126

Cinco reais

Há dois dias me chamaram para uma entrevista de emprego, na segunda-feira. Na verdade, já fiz a entrevista, uma vez. Essa é uma segunda entrevista, deverei apresentar um porta-fólio e tudo.

Na verdade, a entrevista deveria ter rolado semana passada, na segunda-feira. Me ligaram pela manhã e disseram que eu deveria estar lá às 18h. Tudo bem, eu disse, levo alguma coisa? E tinha que levar o maldito porta-fólio. O dia passou muito rápido, foi o tempo suficiente para organizar arquivos no meu computador, tentar lembrar onde estava esse ou aquele trabalho bem legal para apresentar - que não encontrei - e se deparar com outros que não me lembrava e que eram bons também. Me aprontei e saí de casa. Me ligam do bendito lugar. A entrevista foi cancelada porque o senhor que me entrevistaria não conseguiria chegar a tempo. Foi um desses dias que você liga o televisor e vê que São Paulo tornou-se uma cidade submarina. Me ligariam em até dois dias para marcar uma nova data. "Tudo bem", eu disse. Estava tranqüilo porque seria fácil já que tinha organizado tudo, seria só questão de imprimir os trabalhos no decorrer da semana. Por alguma razão, a semana passou sem eu perceber, marcaram a próxima segunda-feira e de repente, era ontem. Ontem foi aniversário de São Paulo. Eu me enrolei. Hoje eu fui a uma gráfica imprimir alguns dos meus trabalhos porque eu tenho apenas umas míseras fotos de outros projetos.

A gráfica estava fechada.

Tudo bem, vamos a outra gráfica rápida que eu conheço. Estava aberta. "É a cores ou pb?" o homem me pergunta. É a cores, meu senhor. Ele pega o DVD com os trabalhos para ver o que era. Anda para lá e para cá enquanto uma moça olha o conteúdo do disco. Pergunto o valor que eles cobram. Ele começa a escrever em um papel sem falar nada. Não entendi a razão daquilo. Acho legal quando escrevem mas não, ele escrevia em silêncio e terminando de escrever me passa o papel como se estivesse me fazendo a mais indecente das propostas. O valor era aceitável. O que achei um absurdo foi uma taxa cobrada para abrir os arquivos. Disse em voz alta "Cinco reais para abrir os arquivos?". Como se não fosse a coisa mais absurda do mundo, ele diz um natural "Isso". Senti fervilhar. Não tenho certeza mas há alguma maneira de alguém levar trabalhos para serem impressos sem que se abra um arquivo? Não falo de cópias comuns, xerox ou coisa que o valha. Impressão de conteúdo original. Pois é, cheguei à mesma conclusão. Safado. Não conhecia nenhuma outra gráfica rápida na região que estivesse aberta além dessa gráfica rápida miserável que cobra cinco mangos para abrir os arquivos pelos quais eu já pagarei para serem impressos. Respirei fundo. "Tudo bem vai, pode fazer". Não, não podiam pegar o trabalho hoje porque tinham um outro trabalho grande "mais de duas mil cópias" de alguma coisa para alguém que era à cores. Poderão imprimir isso na segunda, pra mim. Tenho que estar na segunda-feira às 9h em São Caetano com a droga dos trabalhos em mãos. Ele diz "Abrimos às oito e quinze". Rangi os dentes, agradeci e saí pisando duro. Filho da puta.

Cheguei em casa e sentei com a lista telefônica no colo. Pesquisei por gráficas rápidas na região e nada. Qualquer lugar muito mais distante fecharia quando eu chegasse na porta. Liguei em alguns lugares. Nada, nada, nada, nada, nada. Tentei me concentrar. Procurar uma outra solução. Qualquer solução. Liguei em mais alguns lugares e continuei sem nenhuma possibilidade de imprimir isso hoje. Amanhã é domingo. Segunda tenho que estar no tal lugar às nove horas da manhã com esses arquivos impressos. Tinha que conseguir algo. Penso, penso, penso, penso -- Espera.
Engoli à seco e contrariado. Sentindo o orgulho se ferir, concluí:

Segunda estarei na gráfica safada às oito e quinze da manhã.

De todas as possibilidades e impossibilidades, considero-me culpado por isso. Em parte. O maior responsável, pra mim, é claro. É esse maldito inferno astral.
Só faltam oito dias para esse maldito inferno astral acabar.

20080125

"Assim, pois, meu velho confidente, num espírito de congraçamento, antes que nos juntemos aos demais - os que estão espalhados por aí por toda parte, inclusive, estou certo, os loucos do volante de meia-idade que insistem em nos mandar para a Lua, os vagabundos que se crêem iluminados por Buda, os fabricantes de cigarro com filtro para os homens que sabem escolher o melhor, os beatnicks, os mal-ajambrados e os petulantes, os adeptos de cultos obscuros, todos os imponentes peritos que tão bem sabem o que devemos ou não fazer com nossos humildes órgãos sexuais, todos os jovens barbudos, orgulhosos e iletrados, bem como os guitarristas sem talento, os assassinos do budismo zen e os deliqüentes juvenis de roupas padronizadas, todos esses que, do alto de sua infinita ignorância, olham para este esplêndido planeta por onde (por favor, não me interrompa agora) passaram o Biriba, Cristo e Shakespeare -, antes de nos juntarmos a todos eles, eu muito particularmente lhe peço, velho amigo (para dizer a verdade, quase imploro), que aceite de mim este despretensioso buquê de recém-desabrochados parênteses: (((())))."

J.D. Salinger

20080121

Pratos do Dia

   Ou ainda, dos últimos dias e de alguns que ainda virão:




   E de sobremesa,



tic tac tic tac tic tic tic...

20080111

Corujão

Hoje - ou melhor, na madrugada de hoje para amanhã - às 3:35 a Rede Globo exibirá o filme "A Malvada" (All About Eve, 1950) com a Bette Davis!

O filme ganhou o Oscar de melhor filme em cima de "Crepúsculo dos Deuses", que também é uma figura carimbada das madrugadas televisivas. Sou meio suspeito para falar do "Crepúsculo dos Deuses" porém, li em algum lugar que "apesar de ''A Malvada' ter ganhado o prêmio máximo, o de melhor filme em sua época, o tempo provou que 'Crepúsculo dos Deuses' é um filme muito mais mordaz em sua crítica a Hollywood e seu mundo de ilusões"

Acho que muitos lugares já afirmaram isso simplesmente porque isso é um fato. Mas que "A Malvada" é um grande filme de Bette Davis e que vale muito a pena acordar mais cedo (ou dormir mais tarde) para acompanhá-lo na televisão também não há discussão.

20080110

Funny Games

   Este ano, um dos filmes que eu estou mais ansioso para assistir é uma refilmagem.



O Funny Games original, de 1997, saiu por aqui com a incisiva tradução de "Violência Gratuita" que só conheço de cópias em vídeo ainda que exista uma versão raríssima em DVD, é um filme de produção austríaca dirigido pelo Michael Haneke e é excelente. Sério, é um filme extremamente consciente, voraz, inquietante e inesquecível. A Violência Gratuita do título em português é apenas uma impressão (do meu ponto de vista, errônea) sobre as ações do filme. Um filme bagaceira e horrível como "Albergue" merecia ser chamado de Violência Gratuita porque o filme exibe um sadismo babaca e gratuito na intenção de chocar o espectador. A história é muito mais rala do que de muita pornografia e é um filme que de fato banaliza a violência de uma maneira que o cinema não precisava ver ou ainda, poderia ser mostrado mas não sugere nenhuma discussão real além da exibição seqüencial de imagens explícitas - é chamado de "Torture Porn". Não apenas filmes mas toda a mídia em si, a banalização da violência é algo real, constante e inconsciente. As pessoas têm ânsia por cada vez mais, mais e mais e tanto se perde no caminho.
Então, foi feito este filme em 1997.
E então, um remake será lançado agora, em 2008:



O remake será um desses remakes do tipo cena-a-cena, como no remake de Psicose feito por Gus Van Sant baseado na obra de Hitchcock. As diferenças são:
a) Será feito em terreno norte-americano;
b) Terá uma distribuição e publicidade maior do que o filme anterior possibilitando um maior acesso ao filme;
c) É dirigido pelo Michael Haneke, novamente!


Funny Games é um filme que subverte a narrativa tradicional de um filme. No site oficial do remake o diretor do filme pergunta
Como podemos fazer que a audiência perceba seu papel na perda da realidade? Como o espectador pode ser transformado de vítima da mídia em potencial participante?

para em seguida nos responder
A questão não é o que temos o direito de mostrar mas como promover o entendimento, não como retratar a violência mas como deixar os espectadores ver sua relação com ela e a maneira que ela é representada.

E é uma ótima oportunidade para ver esse filme no cinema já que eu não sei como foi o lançamento do filme original por aqui, se foi direto para vídeo ou o quê. Além disso, podemos considerar como fator positivo que a versão de 1997 deverá ser relançada em DVD como é praxe no lançamento de remakes. Saiu em DVD pelo selo "Cult Filmes" em 2000 e atualmente vale ouro em sites de leilão por aqui.

Aliás, coloquei uma pequena cena do filme e não coloquei o trailer.
Sendo assim,



Agora é só aguardar o lançamento que está previsto para o dia 28 de março. Com muita ansiedade, eu diria. No meio tempo, vale a pena procurar por uma cópia do filme, ainda que em VHS, para poder assistir e ver por si mesmo e estabelecer seu próprio julgamento quanto ao filme.

O meu eu já estabeleci.

20080109

Misc.

   Quando redigi o Prólogo para o Ano de TCC, esqueci de um tópico que deixa tudo um pouco mais difícil :

Quero ter um layout decente para isso aqui. Não precisa de muita coisa não ou algo estupendo, só um layout mais bacana mesmo que orne melhor com o blogue em si porque este, apesar de funcional e genérico, tem coisas que eu não gosto. Gosto da palheta de cores, sempre digo com um largo sorriso que o marrom é o novo preto. Contudo, as cores poderiam ser outras, uma palheta mais diversificada ou ainda mais minimalista, não há problema. O marrom me cansou. O espaço com o título do blogue, lá no alto diz, em texto corrido, fonte ampliada "O Pinball Mutante" ao lado de uma simpática seqüência de setas que parecem saídas de uma partida de Space Invaders.

(Por curiosidade, hoje li jornal como ser "nerd" é cool. Como os jogos de videogame são parte da cultura pop e etc. Acho ótimo, sou nerd e aficionado em videogames desde que eu consigo me lembrar e torço pela Nintendo como quem torce para seu time de futebol do coração. Lembro-me que o motivo pelos quais escolhi este layout foi a) a predominância do marrom e b) as setas 8-bit. Agora isso é cool. Sendo assim, meu layout é quase descolado, certo? Não necessariamente)

continuando.
O nome do blogue mudou quando no dia oito de julho passado ressucitei-o de vez. Era "O Pinball Mutante & A Extravagante Microfonia Atômica". Longo, longo, longo. E nesse dia eu já reclamava que

Acho esse layout padrão do Blogger esquisito, tentei editar o código fonte mas achei tudo assustador e complicado.

Do layout anterior sinto falta de um logo, mesmo. As setas são simpáticas mas o tempo delas já se foi. Sinto falta das tags anteriores do blogger. Aparentemente não é assim tão mais complicado mas nunca perdi muito tempo lendo sobre essas tags mais atuais. Aceito de bom grado uma doação de layout.


Em tempo:
Hoje cortei o cabelo;

Sou o pior enxadrista de todos os tempos - mais sobre isso qualquer dia desses;

Inferno Astral ou não, meu aniversário está logo aí. Tenho algumas sugestões de presente que pode ajudá-lo (a) na difícil (ainda que gratificante) tarefa de me agradar.

Localização:

Em meios às chamas do tal Inferno Astral.


Como diria Johnny Cash, em outras circunstâncias,
"And it burns, burns, burns"

20080107

Prólogo: Trabalho de Conclusão de Curso

Dois mil e oito começou e estava tudo bem, tudo ótimo.

Então, na manhã de sábado me bateu:

Caralho, é o ano do meu TCC. Caralho, caralho, caralho, ca-ra-lho.

Não vou ter tempo para nada, para ler, para ver filmes, para fazer absolutamente nada. É o TCC, droga. Lerei alguns livros e verei alguns filmes eventualmente mas com certeza estarei tão enterrado até o pescoço para dar conta do TCC que eu vou ler menos e ver menos filmes do que gostaria.

E referências? Por deus, as referências! Preciso ver mais filmes e ler mais livros ainda para conseguir solidificar um pouco as referências que pretendo utilizar no meu TCC! Sei de alguns títulos mas preciso de tantos outros! E não posso pegar livros em bibliotecas porque devo nas que eu conheço, incluindo da faculdade. Na faculdade é dinheiro. Na rede municipal, eu não poderei alugar livros pelo mesmo tempo que eu levei para entregar, em atraso. No momento, esse débito é de aproximadamente dois anos, sete meses e seis dias (e contando!).

Preciso terminar de escrever os personagens para poder escrever o roteiro! E preciso postar aqui no blogue alguns contos que escrevi. Já estamos em dois mil e oito! DOISMILEOITO. Janeiro e contando. E correndo. E contando.

E isso é um exemplo de como uma pessoa pode ter um treco antes de completar trinta anos.

A idéia é me organizar AGORA para estar menos estressado DEPOIS. O durante TCC vai ser assustador, aqueles mergulhos neuróticos, noites mal dormidas, cabeça rodando e fervendo o tempo todo.

É sério, preciso aprender a controlar isso. A me organizar melhor. Não digo separar as coisas porque isso é impossível. Tenho um ciclo constante durante os períodos de trabalho que inclui minhas raras horas de sono, usando sem nenhum pudor, meus sonhos como meio para continuar o desenvolvimento. Muitas vezes é concreto e chato. Um sonho que imita a realidade, pouco sonho. Muitas vezes é a idéia em si, é o acontecimento. Gosto de ambos. Os primeiros são objetivos, como check lists mentais, uma maneira de simplesmente expandir as idéias que já surgiram e dali, acordar, reescrever o que eu conseguir lembrar e dar continuidade. Os outros são mais sutis e provocantes. São mais típicos no campo de sonhos, uma versão atípica da vida. Acordo com as imagens me rodeando e elas são sempre tão úteis que de forma alguma eu gostaria de separá-los de quaisquer outras coisas.

O TCC é esse momento que eu aguardo com muita ansiedade desde o começo do curso. Porém, por experiências com TCCs alheios, tudo parece incrivelmente plausível e assustadoramente excitante, uma roleta violenta de emoções, em ação

nesse momento.

20080106

O melhor álbum de 2007/2008

O The Hives já é a minha nova banda favorita há alguns anos. Honestamente, eles são insuperáveis. Eles acertam, cada acorde, cada refrão, os riffs no lugar. As explosões durante as canções são simplesmente arrebatadoras. Adoro muitas bandas, artistas e cantores. Mas o Hives está sempre, sempre na frente. É aquela velha história da identificação imediata com as canções e seus temas, com a maneira que eles encaram a música e o mundo e a maneira como eu encaro a música, o mundo e as pessoas desse mundo.

Gritei e chorei assistindo ao Iggy Pop junto com os Stooges e tive reação extremamente semelhante quando vi o Devo. No duro, não sei qual seria a minha reação ao ver o Hives ao vivo. É uma dessas bandas que você fica sempre meio bobo e cheio de eufemismos para tentar expressar o quanto você os admira e não fica meio embaraçado depois simplesmente porque você morre de orgulho dessa banda! E qual a sua participação nisso? Mínima. E os caras são seus heróis.

Tenho os álbuns do Hives lançados por aqui, originais e tudo. O início com um punk de garagem muito competente em Barely Legal aos flertes entusiasmados com uma onda mais nova, a la Devo, em Tyrannosaurus Hives, cada disco do The Hives é um disco singular, próprio, sempre digno de ser chamado de "novo disco". São apenas quatro discos com quatro maneiras de fazer músicas. Todos com a mesma essência que marca a banda.

Veni Vidi Vicious é um marco. Foi o álbum em que eu conheci o The Hives e provavelmente metade do planeta também. É o álbum em que o estilo da banda ganha contornos mais marcantes e visíveis. Não me leve a mal, Barely Legal é energético e intenso mas pende para um álbum feito por jovens em busca de música boa e rápida muitas vezes. Ainda assim, uma banda de jovens boa pra caralho e que já começava a demonstrar uma maneira própria de fazer seu som e no álbum Veni Vidi Vicious, o The Hives definiu bem esse som. Aliás, definiu esse som como "Punkrock Avec KaBoom" e termo esse que faz sentido tremendo quando os primeiros acordes de "The Hives - Declare Guerre Nucleaire" o acolhe calorosamente para, em seguida, o levar aos pontapés por apenas um minuto e meio. Em seguida, o álbum transcorre com peso, energia, beleza e sujeira culminando com o hino sarcástico de "Supply And Demand". Você não nota e o você já está ouvindo o álbum de novo e de novo e de novo. E se apaixona pelo hino com clima de Elvis Presley no Paraíso Havaiano de "Find Another Girl", um cover extremamente competente da canção de Jerry Butler e adora cada uma das canções e não consegue escolher apenas uma porque todas têm aquela sensação de filhos queridos. E são os queridos filhos do vizinho. E vocês os adora como se fossem filhos seus.

Então, 2004. The Hives lança um novo álbum: Tyrannosaurus Hives. Saiu no Brasil em 2005 e tocou, por aqui, desde então. O álbum explode logo de cara com "Abra Cadaver", um minuto e meio ainda mais intenso que o do álbum anterior. Daquelas canções que você mal começa a ouvir e sente calafrios ao se imaginar ouvindo-a ao vivo com a banda logo ali, na sua frente. Citei Devo como influência e uma música como "Walk Idiot Walk" deixa isso bem claro. É quase mecânica e hipnótica, guitarras muito bem colocadas e uma linha de baixo tão típica do Hives que o faz querer apertar as mãos do Dr. Matt Destruction e cumprimentá-lo por essa e por tantas outras canções. Tyrannosaurus Hives é um álbum tão repleto de boas canções que você se pergunta por que afinal outras bandas que clamam escrever quinhentas canções novas para o novo álbum pegam duas realmente boas e quatro regulares regulares e seis ruins para compor este álbum? E não se surpreende por ser um outro álbum do The Hives. Um colega me disse uma vez que a música "A Little More For Little You" é uma Hives clássica. Concordei. Mas este álbum de 2004 contém tantas clássicas Hives como o anterior, Veni Vidi Vicious sem, em nenhum momento fazer a banda parecer uma "continuação" mas, como eu falei: Um álbum novo da mesma banda.

O The Hives foi formado em 1993, na Suécia mas o mundo só os ouviu mesmo com o relançamento do Veni Vidi Vicious em 2002. O álbum foi lançado em 2000 mas o relançamento foi um determinante porque voltemos ao início do século XXI: The Strokes e toda a nova onda do "novo rock" surgia de arrastão. Em uma entrevista, o vocalista do The Hives, Howlin' Pelle Almqvist comenta sobre esse momento de Strokes e White Stripes que "o que era chamado de rock tinha sido muito chato por muito tempo e algumas bandas apareceram de forma que pelo menos parecia excitante, tipo o deixava animado quando vocês as ouvia. Eu acho que havia coisas que tínhamos em comum e coisas que nós não tínhamos em comum mas nós tínhamos muito mais em comum do que qualquer outra coisa que estava por aí. Eu gosto dessas duas bandas e isso é mais do que eu posso dizer da maioria das bandas, então eu acho que foi bom". Aí, no álbum seguinte dessas bandas (com exceção louvável do White Stripes que é uma banda criativa pra burro) e outras que vieram posteriormente sob a mesma linha, o disco seguinte simplesmente soava muito próximo do anterior. Agora, nesse momento, além do Strokes, me vem logo de cara Franz Ferdinand, Arctic Monkeys, Libertines, Rapture, Futureheads e até o Scissor Sisters. Não me leve a mal, são álbuns extremamente divertidos e gosto de todas as bandas que citei mas inegavelmente são continuações do álbum anterior, variações aqui ou ali mas pouca inovação. Provavelmente parte das quinhentas canções que não entrou no álbum com um tapinha para soar como um material sutilmente diferente. "Não, não é igual, vê? Antes fazíamos pá pá pá tum tum e agora fazemos pá pá tum tum pá o que pode soar parecido quando a música toca e a linha repete-se mas você tem diferenças, sim".

Aí, por isso Tyrannosaurus Hives entra com um peso tão grande. Barely Legal é um álbum diferente do Veni Vidi Vicious e se o The Hives seguisse a ordem natural de "não se mexe em time que está ganhando", o Tyrannosaurus Hives não chegaria a lagartixa. Um outro fator que pesava contra era que seria o primeiro álbum do The Hives distribuído por uma grande gravadora, a Universal Music. Todos tememos uma abordagem mais linear da banda porque muito mais dinheiro estaria envolvido na produção do disco. E o álbum, quando foi finalmente lançado, mostrou que a banda foi mais longe. Lembro da minha primeira audição do Tyrannosaurus Hives, cheia de euforia e surpresa e quando o coloco para tocar, tenho as mesmas sensações.


ufa.

E tudo isso por que? Porque há dois dias adquiri o novo álbum do The Hives, o The Black and White Album. Não sabia que já tinha sido lançado por aqui em meados de novembro. Foda-se, eu já tinha baixado e tudo porque não agüentava a ansiedade. Contudo, ao colocar o disco ali, físico, para tocar e poder dançar e cantar junto, com o encarte em mãos, putaquepariu. O mesmo álbum que não sai do meu MP3 player há dois meses soou tão fresco e excitante como o dia que eu encontrei apenas uma alma caridosa no Soulseek com o álbum completo de quem fiz o download e ouvi, faixa a faixa, num Repeat All de audições infinitas. Um novo álbum, definitivamente. Um álbum monstruoso, aliás, de proporções imensas, melodias inesquecíveis e, aproveitando o trocadilho, inúmeros tons de cinza. É o álbum mais longo do The Hives. Aproximadamente 45 minutos, contra a média de 27 a 29 minutos dos anteriores. E ainda assim é um álbum tão rápido e intenso como um álbum do The Hives tem que ser. É o melhor álbum de 2007 e já o proclamo o melhor de 2008, também, por que não?

Faça um favor a si mesmo e ouça este álbum o quanto antes. Você me agradecerá depois!
e eu direi apenas

"Agradeça ao The Hives".

20080105

Sangues

Doei sangue, lá no Hospital do Câncer.

Em filmes sempre mostram as pessoas doando sangue e até sêmen por dinheiro. Aqui, ganhei suco e uns biscoitinhos. Não sei quanto eles pagam lá fora mas pareceu um negócio justo pra mim, aqui porque eu bem gastaria o dinheiro do sangue com comida e sequer suco seria.

Mas poderia pagar contas, ou pegar um ônibus, realmente não sei. Quando alguém trabalha muito, alguém diz "Dei o sangue nesse trabalho".

Quanto de sangue
exatamente?

Porque analisando friamente, se deu o sangue e continua vivo, deu bem um suquinho e biscoitos.

20080103

Inferno astral

Hoje começa oficialmente o meu chamado "Inferno Astral". Falta um mês para o meu aniversário.

Não sei bem o que isso significa mas há sempre uma pessoa que justifica erros imprevistos e problemas inúmeros porque ela está passando pelo seu "inferno astral". Então sei que estou sujeito a todo tipo de coisa.

Contagem regressiva!

20080101

REVEILÃO

Já passou.

E este é o primeiro post no primeiro dia do ano. Onde passei o meu? Na praia. Sim, a mesma "praia" que quem me conhece pessoalmente já me ouviu reclamar de, sobre e pela. Não gosto do sol tanto assim mas contornei isso com aplicações de protetor solar e o uso permanente dos óculos escuros, driblando o excesso de claridade que me incomoda muito. Já fico meio cego. Não quero, absolutamente, ficar meio cego e com dor de cabeça por causa do sol e pronto.

Altos e baixos. Tenho bolhas nos pés causados pelo chinelo. Devo ser a única pessoa a ter bolhas que ficam perfeitamente escondidas atrás das tiras de um par de Havaianas. E não falo daqueles chinelos meio sandálias ou "papetes" mas só as Havaianas comuns que estão pelo mundo todo, hoje em dia. As que me causaram as bolhas são azuis. Elas ficam invisíveis quando estou calçado porém, bolhas não precisam ser vistas para serem sentidas.

O que não fica escondido são as marcas de picadas de pernilongos. Eu estava quase certo de que os pernilongos estavam extintos ou em franca decadência. Ultimamente, quando e se um pernilongo aparece no meu quarto no meio da noite, e só nas noites de calor monstruoso, é um. Eu me escondo sob os lençóis e só o escuto zunir ao meu redor para então desistir dessa vida e provavelmente escolher formas mais saudáveis de alimentação. Mas lá, na praia, não. Fora de brincadeira, estou com marcas iguais às de catapora pelos pés e pernas e, em menor escala, nos braços. Acho que perdi um terço do meu sangue para aqueles insetos caiçaras.

Apesar de boas exposições ao sol, não estou bronzeado. Não que eu tenha notado, claro. E não exagerei, utilizei um protetor solar com FPS 30 porém, isso é boa. Qualquer outra tentativa de bronzeamento sem protetor solar só me ocasionaram queimaduras horríveis, vermelhas, disformes e irregulares pelo corpo. Sabe aquele estereótipo de turista? Bingo.

Aí, sem isso tudo eu jamais teria tido momentos como a bela manhã do último dia de 2007, sentado à sombra, na praia, olhando o mar e tomando seguidos sucos de laranja gelados com minha grande amiga Guadalupe, entre gargalhadas e a surpreendente constatação de como a praia pode ser um lugar muito agradável.

E sim, pulei as sete ondas num pé só (o pé direito), quase tombando por conta da maré, numa mistura muito divertida de euforia e preocupação. Eu tinha deixado meus documentos numa bolsa na praia para não estragar com a água e se eu me afogasse seria enterrado como indigente. Enterrado como indigente na praia, no litoral, longe da minha adorada civilização, do doce cheiro de poluição e das pessoas desbotadas por viverem tempo demais fechadas em casa. Aí não dava.