Há dois dias me chamaram para uma entrevista de emprego, na segunda-feira. Na verdade, já fiz a entrevista, uma vez. Essa é uma segunda entrevista, deverei apresentar um porta-fólio e tudo.
Na verdade, a entrevista deveria ter rolado semana passada, na segunda-feira. Me ligaram pela manhã e disseram que eu deveria estar lá às 18h. Tudo bem, eu disse, levo alguma coisa? E tinha que levar o maldito porta-fólio. O dia passou muito rápido, foi o tempo suficiente para organizar arquivos no meu computador, tentar lembrar onde estava esse ou aquele trabalho bem legal para apresentar - que não encontrei - e se deparar com outros que não me lembrava e que eram bons também. Me aprontei e saí de casa. Me ligam do bendito lugar. A entrevista foi cancelada porque o senhor que me entrevistaria não conseguiria chegar a tempo. Foi um desses dias que você liga o televisor e vê que São Paulo tornou-se uma cidade submarina. Me ligariam em até dois dias para marcar uma nova data. "Tudo bem", eu disse. Estava tranqüilo porque seria fácil já que tinha organizado tudo, seria só questão de imprimir os trabalhos no decorrer da semana. Por alguma razão, a semana passou sem eu perceber, marcaram a próxima segunda-feira e de repente, era ontem. Ontem foi aniversário de São Paulo. Eu me enrolei. Hoje eu fui a uma gráfica imprimir alguns dos meus trabalhos porque eu tenho apenas umas míseras fotos de outros projetos.
A gráfica estava fechada.
Tudo bem, vamos a outra gráfica rápida que eu conheço. Estava aberta. "É a cores ou pb?" o homem me pergunta. É a cores, meu senhor. Ele pega o DVD com os trabalhos para ver o que era. Anda para lá e para cá enquanto uma moça olha o conteúdo do disco. Pergunto o valor que eles cobram. Ele começa a escrever em um papel sem falar nada. Não entendi a razão daquilo. Acho legal quando escrevem mas não, ele escrevia em silêncio e terminando de escrever me passa o papel como se estivesse me fazendo a mais indecente das propostas. O valor era aceitável. O que achei um absurdo foi uma taxa cobrada para abrir os arquivos. Disse em voz alta "Cinco reais para abrir os arquivos?". Como se não fosse a coisa mais absurda do mundo, ele diz um natural "Isso". Senti fervilhar. Não tenho certeza mas há alguma maneira de alguém levar trabalhos para serem impressos sem que se abra um arquivo? Não falo de cópias comuns, xerox ou coisa que o valha. Impressão de conteúdo original. Pois é, cheguei à mesma conclusão. Safado. Não conhecia nenhuma outra gráfica rápida na região que estivesse aberta além dessa gráfica rápida miserável que cobra cinco mangos para abrir os arquivos pelos quais eu já pagarei para serem impressos. Respirei fundo. "Tudo bem vai, pode fazer". Não, não podiam pegar o trabalho hoje porque tinham um outro trabalho grande "mais de duas mil cópias" de alguma coisa para alguém que era à cores. Poderão imprimir isso na segunda, pra mim. Tenho que estar na segunda-feira às 9h em São Caetano com a droga dos trabalhos em mãos. Ele diz "Abrimos às oito e quinze". Rangi os dentes, agradeci e saí pisando duro. Filho da puta.
Cheguei em casa e sentei com a lista telefônica no colo. Pesquisei por gráficas rápidas na região e nada. Qualquer lugar muito mais distante fecharia quando eu chegasse na porta. Liguei em alguns lugares. Nada, nada, nada, nada, nada. Tentei me concentrar. Procurar uma outra solução. Qualquer solução. Liguei em mais alguns lugares e continuei sem nenhuma possibilidade de imprimir isso hoje. Amanhã é domingo. Segunda tenho que estar no tal lugar às nove horas da manhã com esses arquivos impressos. Tinha que conseguir algo. Penso, penso, penso, penso -- Espera.
Engoli à seco e contrariado. Sentindo o orgulho se ferir, concluí:
Segunda estarei na gráfica safada às oito e quinze da manhã.
De todas as possibilidades e impossibilidades, considero-me culpado por isso. Em parte. O maior responsável, pra mim, é claro. É esse maldito inferno astral.
Só faltam oito dias para esse maldito inferno astral acabar.