O The Hives já é a minha nova banda favorita há alguns anos. Honestamente, eles são insuperáveis. Eles acertam, cada acorde, cada refrão, os riffs no lugar. As explosões durante as canções são simplesmente arrebatadoras. Adoro muitas bandas, artistas e cantores. Mas o Hives está sempre, sempre na frente. É aquela velha história da identificação imediata com as canções e seus temas, com a maneira que eles encaram a música e o mundo e a maneira como eu encaro a música, o mundo e as pessoas desse mundo.
Gritei e chorei assistindo ao Iggy Pop junto com os Stooges e tive reação extremamente semelhante quando vi o Devo. No duro, não sei qual seria a minha reação ao ver o Hives ao vivo. É uma dessas bandas que você fica sempre meio bobo e cheio de eufemismos para tentar expressar o quanto você os admira e não fica meio embaraçado depois simplesmente porque você morre de orgulho dessa banda! E qual a sua participação nisso? Mínima. E os caras são seus heróis.
Tenho os álbuns do Hives lançados por aqui, originais e tudo. O início com um punk de garagem muito competente em Barely Legal aos flertes entusiasmados com uma onda mais nova, a la Devo, em Tyrannosaurus Hives, cada disco do The Hives é um disco singular, próprio, sempre digno de ser chamado de "novo disco". São apenas quatro discos com quatro maneiras de fazer músicas. Todos com a mesma essência que marca a banda.
Veni Vidi Vicious é um marco. Foi o álbum em que eu conheci o The Hives e provavelmente metade do planeta também. É o álbum em que o estilo da banda ganha contornos mais marcantes e visíveis. Não me leve a mal, Barely Legal é energético e intenso mas pende para um álbum feito por jovens em busca de música boa e rápida muitas vezes. Ainda assim, uma banda de jovens boa pra caralho e que já começava a demonstrar uma maneira própria de fazer seu som e no álbum Veni Vidi Vicious, o The Hives definiu bem esse som. Aliás, definiu esse som como "Punkrock Avec KaBoom" e termo esse que faz sentido tremendo quando os primeiros acordes de "The Hives - Declare Guerre Nucleaire" o acolhe calorosamente para, em seguida, o levar aos pontapés por apenas um minuto e meio. Em seguida, o álbum transcorre com peso, energia, beleza e sujeira culminando com o hino sarcástico de "Supply And Demand". Você não nota e o você já está ouvindo o álbum de novo e de novo e de novo. E se apaixona pelo hino com clima de Elvis Presley no Paraíso Havaiano de "Find Another Girl", um cover extremamente competente da canção de Jerry Butler e adora cada uma das canções e não consegue escolher apenas uma porque todas têm aquela sensação de filhos queridos. E são os queridos filhos do vizinho. E vocês os adora como se fossem filhos seus.
Então, 2004. The Hives lança um novo álbum: Tyrannosaurus Hives. Saiu no Brasil em 2005 e tocou, por aqui, desde então. O álbum explode logo de cara com "Abra Cadaver", um minuto e meio ainda mais intenso que o do álbum anterior. Daquelas canções que você mal começa a ouvir e sente calafrios ao se imaginar ouvindo-a ao vivo com a banda logo ali, na sua frente. Citei Devo como influência e uma música como "Walk Idiot Walk" deixa isso bem claro. É quase mecânica e hipnótica, guitarras muito bem colocadas e uma linha de baixo tão típica do Hives que o faz querer apertar as mãos do Dr. Matt Destruction e cumprimentá-lo por essa e por tantas outras canções. Tyrannosaurus Hives é um álbum tão repleto de boas canções que você se pergunta por que afinal outras bandas que clamam escrever quinhentas canções novas para o novo álbum pegam duas realmente boas e quatro regulares regulares e seis ruins para compor este álbum? E não se surpreende por ser um outro álbum do The Hives. Um colega me disse uma vez que a música "A Little More For Little You" é uma Hives clássica. Concordei. Mas este álbum de 2004 contém tantas clássicas Hives como o anterior, Veni Vidi Vicious sem, em nenhum momento fazer a banda parecer uma "continuação" mas, como eu falei: Um álbum novo da mesma banda.
O The Hives foi formado em 1993, na Suécia mas o mundo só os ouviu mesmo com o relançamento do Veni Vidi Vicious em 2002. O álbum foi lançado em 2000 mas o relançamento foi um determinante porque voltemos ao início do século XXI: The Strokes e toda a nova onda do "novo rock" surgia de arrastão. Em uma entrevista, o vocalista do The Hives, Howlin' Pelle Almqvist comenta sobre esse momento de Strokes e White Stripes que "o que era chamado de rock tinha sido muito chato por muito tempo e algumas bandas apareceram de forma que pelo menos parecia excitante, tipo o deixava animado quando vocês as ouvia. Eu acho que havia coisas que tínhamos em comum e coisas que nós não tínhamos em comum mas nós tínhamos muito mais em comum do que qualquer outra coisa que estava por aí. Eu gosto dessas duas bandas e isso é mais do que eu posso dizer da maioria das bandas, então eu acho que foi bom". Aí, no álbum seguinte dessas bandas (com exceção louvável do White Stripes que é uma banda criativa pra burro) e outras que vieram posteriormente sob a mesma linha, o disco seguinte simplesmente soava muito próximo do anterior. Agora, nesse momento, além do Strokes, me vem logo de cara Franz Ferdinand, Arctic Monkeys, Libertines, Rapture, Futureheads e até o Scissor Sisters. Não me leve a mal, são álbuns extremamente divertidos e gosto de todas as bandas que citei mas inegavelmente são continuações do álbum anterior, variações aqui ou ali mas pouca inovação. Provavelmente parte das quinhentas canções que não entrou no álbum com um tapinha para soar como um material sutilmente diferente. "Não, não é igual, vê? Antes fazíamos pá pá pá tum tum e agora fazemos pá pá tum tum pá o que pode soar parecido quando a música toca e a linha repete-se mas você tem diferenças, sim".
Aí, por isso Tyrannosaurus Hives entra com um peso tão grande. Barely Legal é um álbum diferente do Veni Vidi Vicious e se o The Hives seguisse a ordem natural de "não se mexe em time que está ganhando", o Tyrannosaurus Hives não chegaria a lagartixa. Um outro fator que pesava contra era que seria o primeiro álbum do The Hives distribuído por uma grande gravadora, a Universal Music. Todos tememos uma abordagem mais linear da banda porque muito mais dinheiro estaria envolvido na produção do disco. E o álbum, quando foi finalmente lançado, mostrou que a banda foi mais longe. Lembro da minha primeira audição do Tyrannosaurus Hives, cheia de euforia e surpresa e quando o coloco para tocar, tenho as mesmas sensações.
ufa.
E tudo isso por que? Porque há dois dias adquiri o novo álbum do The Hives, o The Black and White Album. Não sabia que já tinha sido lançado por aqui em meados de novembro. Foda-se, eu já tinha baixado e tudo porque não agüentava a ansiedade. Contudo, ao colocar o disco ali, físico, para tocar e poder dançar e cantar junto, com o encarte em mãos, putaquepariu. O mesmo álbum que não sai do meu MP3 player há dois meses soou tão fresco e excitante como o dia que eu encontrei apenas uma alma caridosa no Soulseek com o álbum completo de quem fiz o download e ouvi, faixa a faixa, num Repeat All de audições infinitas. Um novo álbum, definitivamente. Um álbum monstruoso, aliás, de proporções imensas, melodias inesquecíveis e, aproveitando o trocadilho, inúmeros tons de cinza. É o álbum mais longo do The Hives. Aproximadamente 45 minutos, contra a média de 27 a 29 minutos dos anteriores. E ainda assim é um álbum tão rápido e intenso como um álbum do The Hives tem que ser. É o melhor álbum de 2007 e já o proclamo o melhor de 2008, também, por que não?
Faça um favor a si mesmo e ouça este álbum o quanto antes. Você me agradecerá depois!
e eu direi apenas
"Agradeça ao The Hives".