O maior problema do Kasabian foi ter vindo depois do Devo. O Devo fez um show extremamente divertido, energético, fora de controle, imprevisível, lindo. Não cantaram Planet Earth como o título deste post implica ou como seria muito conveniente, dado o nome do evento mas cantaram muitas, muitas outras canções que todos queriam ouvir.
Há muitas outras músicas que deveriam ter entrado, é claro. Mas eles fizeram um show de uma hora e tantos minutos, lá pelos idos de uma hora e quinze minutos. Longo para um festival com muitas outras bandas mas curto para uma banda como o Devo de tantas músicas boas.
Retomando a comparação com o Kasabian, o problema foi ter visto senhores nos seus 60 anos pular e fazer um show com tanta energia, emoção e preocupação minutos antes de uma banda de rapazes muito mais jovens entrar, se colocar no palco, cantar e se limitar a gritar "Let me see your hands, Sao Paulooo" de tempos em tempos quando muito colocando as mãos para o alto também. Experiência de palco e etc, claro, faz diferença. Mas o problema é: Se você é apático uma vez, será sempre apático. E falando nisso, o show dos Strokes aqui, em 2005, uma das bandas responsáveis pelo "retorno do apático ao rock" fez um show que muitos reclamaram da altura do som (De onde eu estava o volume estava ótimo!) mas que mostrou que ser apático ou pouco empolgado ao palco pode muito bem ser um estilo e a base de um show extremamente divertido. O Kasabian pareceu apático a suas músicas, como quem não crê muito no que faz. Foi desconfortável.
O Devo, por sua vez, brincou o tempo todo, conversou com o público, cantou, tocou, dançou. E o público, juntamente, cantou, dançou, gritou. Na terceira música eu já não tinha voz. Arrancava ganidos da garganta para saudar aquela banda que mostrava para essa nossa geração que música boa é música com alma. Que ter ideologia e visão crítica não é ser chato ou niilista. O Devo falou da floresta amazônica, durante o show. Provou teorias ("How many people tonight. The De-Evolution is real!" com a resposta de um massivo e sonoro IIÉÉÉÉÉÉ!, inclusive de mim) e mostrou como suas músicas ficam ainda melhores ao vivo!
Em um dos exemplos mais divertidos, para mim, foi durante a canção Jocko Homo. A canção por si só já é genial quando diz coisas como "God made man but he used the monkey to do it. Apes in the plan, we're all here to prove it: I can walk like an ape, talk like an ape, I can do what a monkey can do. God made man but a monkey supplied the glue" mas no seu bordão é que as coisas pegam fogo. Basicamente, a banda faz uma pergunta e todos respondem em coro. "Are we not men? We are devo!", repetidas vezes, com variações silábicas. E assim foi no show, are we not men, we are devo, are we not men, d-e-v-o, are we not men, we are devo... Dado momento, continuando a canção, ao invés de Mark Mothersbaugh perguntar de novo "are we not men?", ele fez sons de macaco. E todos fizeram sons de macaco, repetindo. Duas, três vezes, aos berros. Parecia um culto, totalmente hipnótico, com pessoas gritando em resposta ao pastor. Já falei que foi incrível?
As fotos que eu tirei ficaram com a duvidosa qualidade que se espera de um celular com câmera fotográfica. Gravei alguns pedaços de áudio e até um trechinho de vídeo durante "Peek-a-Boo", a segunda canção. Boas fotos podem ser vistas no site do festival e até vídeos das canções, o que comprovará muito do que eu disse aqui.
O show do Devo encabeça, juntamente ao show do Iggy Pop e os Stooges, ocorrido no Claro Q É Rock, em 2005, como os melhores shows que eu já tive a oportunidade de ver. Agora, coincidência ou não, ambas bandas são bandas bem mais antigas do que a média que faz shows por aqui (E das que eu já vi) o que pode ou não ser uma espécie de "sinal dos tempos". Não costumo me perder em sessões de nostalgia ou sequer reclamo de bandas ou músicas novas. Mas tou pra ver uma banda mais recente que consiga fazer um show tão empolgante quanto o Devo ou o Iggy com os Stooges (The Hives, espero por vocês!).