Às vezes não sei se você realmente existe ou existiu. Se fez parte da minha vida ou foi simplesmente uma invenção. Não sei dizer ao certo, mas queria que eu a tivesse inventado. Inventado seu olhar instigante e seu sorriso espontâneo. Inventado aquela penugem fina e transparente que cobre sua pele ou criado suas mãos, sempre tão bonitas, com seus dedos longos e delicados. Queria tê-la inventado e, se tivesse, pouco eu mudaria porque você não é perfeita mas amo seus erros. Queria ter te inventado pra poder desinventá-la.
Queria tê-la como invenção minha, criação espontânea, uma loucura da conveniência. Assim, quando você tivesse ido embora, eu poderia inventar um novo alguém para amar como eu a amo. Seria perigoso e previsível porque eu inventaria uma nova você, da mesma maneira. Pode-se inventar uma invenção, novamente? Reinventar? Seria uma cópia. Um novo esconderijo, uma nova imaginação. Quero adiar o momento de abandonar a ilusão e perceber que você não apenas existiu como me amou e me deixou. Negar, posso negar e deliberadamente imaginá-la e reinventá-la de todas as maneiras, que sempre serão você. E você-imaginária, sempre imaginará e reinventará a mim.
não,
Você existe porque foi embora e, eu não consigo amar ninguém assim como eu te amei —real ou imaginária.
Você existe e é a melhor invenção que eu jamais poderia imaginar.
você foi embora.