20080721

A melhor invenção

      Às vezes não sei se você realmente existe ou existiu. Se fez parte da minha vida ou foi simplesmente uma invenção. Não sei dizer ao certo, mas queria que eu a tivesse inventado. Inventado seu olhar instigante e seu sorriso espontâneo. Inventado aquela penugem fina e transparente que cobre sua pele ou criado suas mãos, sempre tão bonitas, com seus dedos longos e delicados. Queria tê-la inventado e, se tivesse, pouco eu mudaria porque você não é perfeita mas amo seus erros. Queria ter te inventado pra poder desinventá-la.
      Queria tê-la como invenção minha, criação espontânea, uma loucura da conveniência. Assim, quando você tivesse ido embora, eu poderia inventar um novo alguém para amar como eu a amo. Seria perigoso e previsível porque eu inventaria uma nova você, da mesma maneira. Pode-se inventar uma invenção, novamente? Reinventar? Seria uma cópia. Um novo esconderijo, uma nova imaginação. Quero adiar o momento de abandonar a ilusão e perceber que você não apenas existiu como me amou e me deixou. Negar, posso negar e deliberadamente imaginá-la e reinventá-la de todas as maneiras, que sempre serão você. E você-imaginária, sempre imaginará e reinventará a mim.

não,


      Você existe porque foi embora e, eu não consigo amar ninguém assim como eu te amei —real ou imaginária.

            Você existe e é a melhor invenção que eu jamais poderia imaginar.



                              você foi embora.