20080517

(a)cúmulo


Excesso de SMS, upload feito originalmente por Ye Captain.

Não é um TOC. É outra coisa. Simplesmente acumulo. E me desprendo da mesma maneira. Não sei, olho, sinto, penso, vivo. E de repente, tudo está lá, inclusive eu. Acumulo sem querer, as coisas se sobrepoem, me tomam, ocupam meu espaço imaginário. Os outros, eu. O mundo. Acúmulo.
E digo que não é TOC. É outra coisa. Porque quando percebo o acúmulo, o desprendimento é rápido. Porém, só o percebo quando o peso das coisas é maior que o meu e não consigo mais transitar em mim. Surgem bloqueios, irritação e cansaço. Não tenho o que fazer.

Formatei meu computador nessa semana. Fiz um extensivo backup em diversos DVDs. Só de música, foram 7 discos repletos. Trabalhos, projetos, textos e fotografias, em tantos outros DVDs. Em 1,48 GB eu tinha todos os meus e-mails, em um arquivo especial, já que eu faço o download dos e-mails através do Thunderbird. Gravei o arquivo especial em um outro DVD. Após formatar a máquina, reinstalar os programas e testar as configurações, tentei restaurar os e-mails. Deu erro. Perdi meus e-mails.
Instantaneamente, senti frustração. Depois, uma espécie de alívio que se transformou em completa indiferença.
([a]cúmulo)
Eu não sou meus e-mails. Apesar de que eu os tinha como "memória", já que a minha memória natural é pouco eficiente, eles não são nada. Foram. Incríveis. Agora, em especial, não são.
Hoje pela manhã, notei que meu celular alcançou a incrível marca de 600 mensagens recebidas e quase 500 enviadas. Não foi o meu celular, não o culpo. A culpa é minha. É desse acúmulo. Talvez, um medo de perder o que não existe. Esse medo de perder a existência, memórias e momentos. De que me adianta ter 600 mensagens no celular quando os melhores momentos da minha vida são maiores que um SMS? São gratas recordações. Um nojento saudosismo. Um escrotismo, uma falta de bom senso. O cúmulo do acúmulo. Um paradoxo entre pensamentos, ações, lembranças e momentos.
Sei que não deixarei de acumular. Acumulo coisas muito mais bonitas e abstratas que e-mails ou SMS. Coleciono, por exemplo, sorrisos. De todo mundo, em todos os momentos. É inevitável, devo ser um maníaco. Mas acho bonito ver um sorriso sincero e infelzimente, não se vê tantos por aí. E quando vejo um, sinto-me realmente feliz por estar ali, mesmo que o sorriso não seja pra mim. A felicidade é o tipo de coisa que eu não consigo deixar de acumular. Acumulo também momentos, sensações abstratas. Primeiras impressões. O cúmulo das impressões. Idéias, pensamentos. Cores, formas. Abstrações, todas as abstrações. E esse tipo de acúmulo é tão positivo e engradecedor que não sei se conseguiria deixá-lo de lado. Não poderia. É parte de mim, tão natural.
Observar-absorver-refletir-construir-destruir-construir.
É um reprocesso de mim, constante. Eu e o mundo. Em uma briga diária. Em uma valsa constante. O amor. A raiva. o amor, o amor, o amor. O acúmulo.
Julgava ter nas mensagens de e-mail o mesmo tipo de acúmulo que me é natural. Talvez seja. E seja natural acumular. E seja natural deixar evaporar. Talvez seja tudo muito natural. Não quero isso pra mim, não assim, se é assim que deve ser. Não preciso disso. Não quero isso.
Me desprendo do acúmulo mesquinho e imaginário. Acumularei apenas as minhas abstrações e toda essa sorte de coisas que me emocionam porque são simplesmente humanas e verdadeiras. Faço disso um compromisso.

não.
Não tenho outro compromisso senão em ser fiel a mim mesmo, à verdade. Não há nada se não sou sincero comigo mesmo. Não há nada sem a minha obsessão com a sinceridade. Que o processo de acúmulo ou desprendimento seja apenas derivado disso. Porque se eu sou sincero e honesto, o acúmulo se esgotará por si. E me desprenderei da mesma maneira.