20080223

Frontier Psychiatrist

Li hoje um artigo sobre Perfeccionismo que saiu na SuperInteressante desse mês. SuperInteressante, etc, etc, eu sei. Gosto da revista, é como aquele livro, O Guia dos Curiosos. Só não costumo apreciar muito as matérias de capa (Que provavelmente é um dos motivos pelos quais você compra a revista ou resolve abri-la) simplesmente porque elas, quase sempre, me parecem redundantes ou uma enrolação. Como um filme que você entende nos primeiros vinte minutos e o filme continua fazendo mistério sobre justamente aquilo. Você pensa "Ok, já entendi. E agora?" mas ele continua ali, no mistério dos vinte minutos até o minuto final. Contudo, essa matéria sobre Perfeccionismo era realmente curta e apesar de que eu apreciaria mais uma ou duas páginas de aprofundamento do assunto, prefiro manter como está a correr o risco de ter uma matéria longa e sem argumentos.

A parte curiosa é que fala sobre sintomas de perfeccionismo e eu me vi em muitos deles. Não tenho certeza se é só mais um desses artigos em que você sempre se identifica — como o que dizem de horóscopo, sempre um tanto vago e abrangente — ou o quê. Me preocupei de cara. Só achei que podia não ser esse monstro uma vez que o perfeccionismo se expande em todas as áreas da sua vida e, honestamente, sou dedicado aos meus trabalhos e atividades porém, meu quarto, por exemplo, é uma bagunça. Mantenho meus DVDs organizados mas sem neuroses. Antigamente os deixava em ordem alfabética. Com o crescente números de filmes, não tinha bem um porquê já que eles não ficariam organizados, seria algo mais próximo de amontoados. E tudo bem.

E você pensa no Woody Allen, sempre neurótico. E você olha e vê que as pessoas costumam ser neuróticas, cada qual com os seus focos de preocupação. Penso que vivo no limite do perfeccionismo, sem exageros porque o que me dificulta mesmo a vida é um reflexo direto do meu quarto. Falta de organização. Estou lendo e investindo tempo para aprender a me organizar, de verdade. Coisa de hábito, dizem. E é uma bela verdade. Preciso de uma agenda nova. Estou reutilizando a do ano passado, que de fato é 2007/2008 mas eu sou um pouco expansivo e minhas anotações de 2007 não me deixaram espaço para 2008. Outro dia anotei um compromisso e tudo bem. Tudo bem até eu chegar na véspera do compromisso e, quando vou olhar na agenda, para fazer uma outra anotação, o dia do compromisso tá em branco. E o dia antes e o dia depois. Senti o horror tomar conta de mim. Suei frio, não sabia o que fazer. Corri para páginas depois e nada. Voltei algumas e nada.

O que minutos desesperadores depois notei é que eu tinha anotado o tal evento pelo menos duas semanas antes dele acontecer. E não porque agendei com duas semanas de antecedência mas porque eu simplesmente não tenho a menor afinidade com meses, semanas, dias, horas ou minutos. Não consigo simplesmente entendê-los da maneira mais abstrata o possível. Entendo-os como convenção social ou coisa do tipo. É que, pessoalmente, o tempo corre de uma forma diferente, ora mais rápido, ora mais lento, mas sempre em um tempo só, para mim. Em um paralelo um pouco bobo é como se o mundo todo fosse gravado em vídeo NTSC, a trinta quadros por segundo. E eu vivesse no tempo da película; eu vivo a vinte-e-quatro quadros por segundo.

No fundo, refletindo sobre a minha desorganização e todo o resto, percebi que a minha neurose com o perfeccionismo é, provavelmente, mais um sintoma hipocondríaco do que qualquer outra coisa.

E hipocondria é fichinha!