20091012

Um método

     Os fatos jogaram contra mim. Me vi subitamente sem escolha do que fazer, pra onde ir, o que escolher. Rodei em meu pensamentos, recolhendo-os por aí. De tudo o que havia ficado para trás. Do tanto que deixa-se pelo caminho porque pesa, pesa, pesa, pesa o corpo e a alma e coração. E das ganas de gritar para exprimir só ficou o lento mastigar dos pensamentos. Queria exprimir para não explodir. Mas não explodi afinal.
     Não soube dizer de quem foi a culpa. É fácil expiar a própria culpa e ignorar o outro lado. Tão fácil quanto supervalorizar os sentimentos alheios e mergulhar em culpa e tristeza. Talvez sejam extremos. Para mim, só servem para delimitar os limites razoáveis de ação. Passados os extremos, ainda me questiono se encontrei a razão.
     Quando eu a abordei e questionei a razão de tais atitudes por parte dela, recebi o olhar daquele que encontra conforto em culpar os outros por seus problemas. Não consegui reagir. Não posso conversar ou contra-argumentar com algo assim. Todos temos o nosso tempo para amadurecer e refletir. Era o meu tempo, não o dela. Não era justo. Me despedi e cada um saiu para seu lado.
     Alguns passos depois, parei e fiquei observando Camila se afastar. Ela caminhava sem muita pressa ou ambição, claramente imersa em seus pensamentos mais uma vez. Ela andava e em um dado momento, olhou para qualquer coisa que a fez quase se virar para mim, mas ela não me viu. E seguiu seu caminho. Vi que dentro de alguns passos Camila iria desaparecer em uma esquina, por trás de um grande muro. Nesse momento, nesse preciso momento, me virei e caminhei na direção oposta.
     Me questionei a razão daquela atitude, em seguida. Me questionava: a separação era inevitável. Por que você desviou o olhar antes do fim?
     E rapidamente encontrei a resposta. Quando eu desvio o olhar, eu mantenho a pessoa. Eu mantenho a minha segurança e meu senso de realidade. Eu sou o parâmetro, eu escolhi quando não veria mais a pessoa. Quando a pessoa se afasta e desaparece e isso está fora do meu controle, fico desamparado porque fiquei sujeito ao mundo, aquele instante, aquela imagem tão fugaz me foi retirada. Isso pode acontecer de maneira brusca, em casos de tragédias ou acidentes, mas ali, ali seria uma maneira tão gentil para isso, como já fora tantas vezes.
     Isso que eu percebi me fez sentir alguma contentação pessoal, uma espécie de alívio em perceber minhas limitações naquele momento. Um alívio porque me senti humano em meu sentimento, igualmente tão sincero quanto egoísta. Ainda assim, isso dificilmente se caracteriza um método.
     A distância é muito mais difícil quando suas memórias são levadas de você, na sua frente, sem pressa ou discussão. E acidentalmente, encontrei esse método de manter uma parte dela ali comigo.

     No entanto, concordo que há mais de um método por aí.