20050403

Uma noite qualquer.

   O doutor Carlos acorda, no meio da noite, para tomar um copo d'água. Sua boca estava seca como nunca. E assim, desce as escadas, lentamente, meio sonolento, ajeitando o pijama listrado.
   Ele é casado há 5 meses, com uma bela mulher, Cláudia. Ele a ama, sem dúvidas. Descontroladamente. Ele então se recorda disso, nessa caminhada, quando passa em frente à um porta-retrato, com uma foto de sua lua-de-mel. Ele sorri, satisfeito. Eles tinham suas diferenças, sempre as tiveram. No entanto, agora, podia afirmar, com certeza, que eles ficariam juntos, para sempre.
   Chega à cozinha, e sem acender a luz, em meio à penumbra, arrisca-se a caminhar, como um notívago em treinamento. Um novato. Tateando os móveis e gabinetes, tropeçando bruscamente numa cadeira deixada em seu caminho, ele encontra a geladeira. Ao abrí-la, a gélida e amarelada luz toma conta do cômodo, iluminando-o, quase que totalmente. Pega uma garrafa na porta e bebe, afobadamente, deixando cair um pouco de água numa listra vermelha da camisa do pijama e mais um pouco no chão. Amanhã ele limpa isso. Ou sua esposa. Ele a ama tanto, ela deve fazer essas coisas pelo homem da vida dela. Coloca a garrafa de volta à porta, e antes de fechar a geladeira, dá uma última olhada no caminho de volta à saída da cozinha. E ainda assim, tropeça na mesma cadeira deixada no meio da cozinha.
   Ainda sonolento, faz uma parada no banheiro e sobe as escadas, preguiçosamente. Entra no quarto espreguiçando-se em direção à cama, onde senta-se. Olha o corpo da mulher iluminado pela luz do luar e fica satisfeitíssimo, com um misto de amor e desejo. Deita-se na cama e abraça-a por trás, passando uma perna por entre as pernas dela. Cheira seus cabelos e alisa seus seios.
   Beija-a atrás da orelha e suas mãos percorrem seu corpo, gélido e ainda sujo de sangue, exposto, maculando seus dedos, depravando seu espírito, gozando de uma paixão doentia e prazerosa. Cláudia, um corpo imóvel e apagado, é puxada pra junto de seu homem, que dorme em seguida, saciado, com uma mão em seu ventre e outra no profundo corte em seu peito, há muito coagulado.