20090131
20090126
Paisagem
Ainda não entendo o que está acontecendo. A noite não foi como são as noites. Não acordei como acordo. Não sou eu e nunca estive tão confortável comigo mesmo. A luz do dia não é a mesma. As pessoas não são as pessoas que estão por aí.
Uma forte sensação de não pertencer, não estar, não compreender. E uma alegria inexplicável que cerca isto. Ou começa nisto. É impossível compreender o que está acontecendo e respiro e repito para mim o que poderia ser real. Mas sei que não é.
Hoje, a luz do dia está inexplicavelmente peculiar. É como um crepúsculo, um constante crepúsculo. Não é dia nem noite. E já pensei em todas as possibilidades. Não estou sonhando, por exemplo. Já conferi umas duas vezes se estou respirando, se sinto minha pulsação. Está tudo ali.
Os sons são estranhos e familiares, parece tudo novo, novamente. Os sabores e sensações também. Com a língua, faço alguma pressão sobre meus dentes. Eles não parecem tão fixos e imutáveis como ontem mesmo poderia jurar que são. Parecem ceder levemente, como dentes de leite em transição para os permanentes. E tantos anos após meus dentes de leite já terem ido embora, me pergunto se estes agora são realmente permanentes.
A leveza de pensamentos e movimentos não se trata de um enfraquecimento, pelo contrário. Ultimamente buscava me desprender de todas as minhas armaduras e esconderijos de conveniência e de repente, mal consigo percebê-los. E como esperado, não trata-se de uma vulnerização mas de uma ação de fortalecimento. Fortalecer o que importa e expor isto porque é isto que sou e nisto que acredito. Estou tão consciente disso que sinto a beleza de cada átomo de mim e a beleza de cada átomo do mundo e a beleza de cada um destes átomos, meus e do mundo, estarem intimamente ligados, indissociáveis e indistinguíveis. São todas as coisas e uma só. Todos nós.
E por este breve momento sinto uma profunda gratidão por estar aqui e poder perceber isto. Não sei o quanto isto dura. Se dura. O que me resta é agradecer.
A quem interessar, obrigado.
Uma forte sensação de não pertencer, não estar, não compreender. E uma alegria inexplicável que cerca isto. Ou começa nisto. É impossível compreender o que está acontecendo e respiro e repito para mim o que poderia ser real. Mas sei que não é.
Hoje, a luz do dia está inexplicavelmente peculiar. É como um crepúsculo, um constante crepúsculo. Não é dia nem noite. E já pensei em todas as possibilidades. Não estou sonhando, por exemplo. Já conferi umas duas vezes se estou respirando, se sinto minha pulsação. Está tudo ali.
Os sons são estranhos e familiares, parece tudo novo, novamente. Os sabores e sensações também. Com a língua, faço alguma pressão sobre meus dentes. Eles não parecem tão fixos e imutáveis como ontem mesmo poderia jurar que são. Parecem ceder levemente, como dentes de leite em transição para os permanentes. E tantos anos após meus dentes de leite já terem ido embora, me pergunto se estes agora são realmente permanentes.
A leveza de pensamentos e movimentos não se trata de um enfraquecimento, pelo contrário. Ultimamente buscava me desprender de todas as minhas armaduras e esconderijos de conveniência e de repente, mal consigo percebê-los. E como esperado, não trata-se de uma vulnerização mas de uma ação de fortalecimento. Fortalecer o que importa e expor isto porque é isto que sou e nisto que acredito. Estou tão consciente disso que sinto a beleza de cada átomo de mim e a beleza de cada átomo do mundo e a beleza de cada um destes átomos, meus e do mundo, estarem intimamente ligados, indissociáveis e indistinguíveis. São todas as coisas e uma só. Todos nós.
E por este breve momento sinto uma profunda gratidão por estar aqui e poder perceber isto. Não sei o quanto isto dura. Se dura. O que me resta é agradecer.
A quem interessar, obrigado.
20090115
Mídias Digitais + Cinema Digital
Passei no vestibular e já estou matriculado! Este ano e por mais alguns estudarei Cinema.
Uma pessoa com formação em Mídias Digitais e que se formará também em Cinema Digital, o que é que dá? Não sei, ainda. Em quatro anos talvez eu tenha uma resposta. No momento, vou estudar Cinema. Cinema!
Só queria compartilhar isso com vocês.
Grato,
Uma pessoa com formação em Mídias Digitais e que se formará também em Cinema Digital, o que é que dá? Não sei, ainda. Em quatro anos talvez eu tenha uma resposta. No momento, vou estudar Cinema. Cinema!
Só queria compartilhar isso com vocês.
Grato,
20090111
S.O.S. telefônico ou o outro lado da vida
(nota de introdução: hoje eu prestei vestibular, de novo. Conclui o meu curso no ano passado, hoje prestei Cinema Digital. Não fui brilhante na prova nem nada, mas a redação ficou até boa. Era uma tira do Laerte publicada em agosto passado. Era necessário fazer uma dissertação, uma narração ou uma carta. Escolhi narração e as condições eram: eu era o cara do último quadro e meu nome era Armando. E eu tinha que narrar aquilo tudo, quem era o personagem do primeiro quadro, etc. Fiz o texto e como pude trazer o rascunho, decidi publicá-lo aqui. Caso eu encontre a tira do Laerte, a deixarei aqui para referência, mas no momento, só posso mostrar o texto. Ainda que eu não adore textos que são feitos obrigatoriamente e o tenha escrito em 45 minutos, acho um tanto interessante. Boa leitura.)
Estou sentado em minha sala junto ao telefone. Fim. Este é meu emprego, minha vida, em linhas gerais. Não há muito além disso, mas não estou realmente incomodado com esta situação, ao contrário de minha esposa que repetidas vezes me disse "Armando, querido, sua vida é chata. Seu emprego é chato." Bobagem, eu a disse. Faço o que faço e faço muito bem. Sou responsável por atender ligações e transcrevê-las. De maneira geral, não me é permitido interferir nas ligações porque não me é permitido, por contrato, interferir na vida. O mínimo de presença me garante o máximo de veracidade na transcrição da vida. Se me perguntam o que faço, então, é isso: narração antropológica, do homem, do mundo, da vida. Através de um telefone, claro.
Acho um emprego justo, não tenho reclamações. A remuneração é adequada e o risco de acidentes é nulo. Já caí da cadeira alguma vezes sem nenhuma consequência maior. Certa vez, eu estava aqui sentado e... um momento, o telefone toca; levo o monofone à orelha, caneta em punho.Um voz desesperada me pede repetidas e infinitas vezes "Socorro! Socorro! Socorro!". Deve ser algum coitado ligando de algum orelhão. Pela sua voz, posso afirmar com bastante convicção de que ele está em uma situação de fuga, provavelmente há um homem armado à sua espreita, o coitado sabe que não tem chance e recorreu ao telefone público mais próximo em uma tentativa desesperada e, se me permite, pouco sábia de conseguir algum amparo. Seus olhos miúdos em pânico devem contrastar com sua bocarra escancarada emitindo seu suplício. Típico.
O homem continua seu apelo e, ainda que eu não seja pago para fazer esse tipo de narração sobre as pessoas, eu o faço porque considero isso um bônus. Os gritos tornam-se mais aflitos e intensos, "socorrossocorrossocorro!", quase indecifráveis. Deve terminar logo. Um último "socorro" é interrompido por um forte estouro, seguido por um ruído e um baque. Ouço passos se aproximando. O telefone é desligado. Termino com um breve "22 de agosto de 2008. 18 horas e 33 minutos".
Através das linhas telefônicas e dos postes é possível fazer tal amostragem da vida que gosto de pensar que sou um Darwin contemporâneo, registrando não a evolução mas a estagnação da espécie. Aliás, onde eu estava? Ah sim! Certa vez, eu estava aqui sentado e subitamente... um momento, o telefone toca; levo o monofone à orelha, caneta em punho. Penso "será que não vão me deixar terminar minha história?!"
A voz fala com desespero. Transcrevo suas palavras sem interferir, etc., etc.
Estou sentado em minha sala junto ao telefone. Fim. Este é meu emprego, minha vida, em linhas gerais. Não há muito além disso, mas não estou realmente incomodado com esta situação, ao contrário de minha esposa que repetidas vezes me disse "Armando, querido, sua vida é chata. Seu emprego é chato." Bobagem, eu a disse. Faço o que faço e faço muito bem. Sou responsável por atender ligações e transcrevê-las. De maneira geral, não me é permitido interferir nas ligações porque não me é permitido, por contrato, interferir na vida. O mínimo de presença me garante o máximo de veracidade na transcrição da vida. Se me perguntam o que faço, então, é isso: narração antropológica, do homem, do mundo, da vida. Através de um telefone, claro.
Acho um emprego justo, não tenho reclamações. A remuneração é adequada e o risco de acidentes é nulo. Já caí da cadeira alguma vezes sem nenhuma consequência maior. Certa vez, eu estava aqui sentado e... um momento, o telefone toca; levo o monofone à orelha, caneta em punho.Um voz desesperada me pede repetidas e infinitas vezes "Socorro! Socorro! Socorro!". Deve ser algum coitado ligando de algum orelhão. Pela sua voz, posso afirmar com bastante convicção de que ele está em uma situação de fuga, provavelmente há um homem armado à sua espreita, o coitado sabe que não tem chance e recorreu ao telefone público mais próximo em uma tentativa desesperada e, se me permite, pouco sábia de conseguir algum amparo. Seus olhos miúdos em pânico devem contrastar com sua bocarra escancarada emitindo seu suplício. Típico.
O homem continua seu apelo e, ainda que eu não seja pago para fazer esse tipo de narração sobre as pessoas, eu o faço porque considero isso um bônus. Os gritos tornam-se mais aflitos e intensos, "socorrossocorrossocorro!", quase indecifráveis. Deve terminar logo. Um último "socorro" é interrompido por um forte estouro, seguido por um ruído e um baque. Ouço passos se aproximando. O telefone é desligado. Termino com um breve "22 de agosto de 2008. 18 horas e 33 minutos".
Através das linhas telefônicas e dos postes é possível fazer tal amostragem da vida que gosto de pensar que sou um Darwin contemporâneo, registrando não a evolução mas a estagnação da espécie. Aliás, onde eu estava? Ah sim! Certa vez, eu estava aqui sentado e subitamente... um momento, o telefone toca; levo o monofone à orelha, caneta em punho. Penso "será que não vão me deixar terminar minha história?!"
A voz fala com desespero. Transcrevo suas palavras sem interferir, etc., etc.
20090106
Alegria
Isadora entrou no apartamento de Roberto em um passo diferente do habitual. Estava mais leve e honesta, livre de si. Roberto não estava e ela sabia disso, a rotina depois de seis anos de namoro é um mapa de horários e lugares que nunca incomodou a nenhum dos dois. E Isadora nesse momento estava explodindo de amor, como quem abre uma caixa e descobre o segredo da vida. Ela foi ao apartamento de Roberto para se despedir dele, uma boa despedida. Uma despedida que não causasse tristeza mas uma despedida que fosse possível de construir algo, não a despedida destrutiva que as pessoas abraçam ao primeiro aceno.
Ela não sabia se Roberto entenderia aquilo, naquele momento. Ela não tinha como saber, mas sabia que certamente um dia ele compreenderia, afinal ele foi fundamental para que ela estivesse desta maneira e que fosse a pessoa que é.
Então Isadora rasgou algumas fotos, queimou cartas, jogou pela janela presentes e lembranças. Rabiscou papéis e com as pernas fracas de satisfação, minutos depois, Isadora deixou o apartamento.
No meio dos papéis rabiscados, apenas um era legível. Ele dizia:
HOJE
AMANHÃ
ONTEM
Isadora foi embora e Roberto não a viu novamente.
Ela não sabia se Roberto entenderia aquilo, naquele momento. Ela não tinha como saber, mas sabia que certamente um dia ele compreenderia, afinal ele foi fundamental para que ela estivesse desta maneira e que fosse a pessoa que é.
Então Isadora rasgou algumas fotos, queimou cartas, jogou pela janela presentes e lembranças. Rabiscou papéis e com as pernas fracas de satisfação, minutos depois, Isadora deixou o apartamento.
No meio dos papéis rabiscados, apenas um era legível. Ele dizia:
HOJE
AMANHÃ
ONTEM
Isadora foi embora e Roberto não a viu novamente.
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