20040309

O Fantasma

   Aquele jovem não se enturmava. Durval era seu nome. Todos eram amigos menos ele; ele era inteligente, bonito, mas não. Ele não era compreendido. Geralmente ignorado.
    A simples presença dele era um incômodo. Porque afinal, ele era muito alegre, muito cheio de vida e bondoso. Mas ele estava inconformado com essa situação.
    Ele tentou agradar. Tentou adequar seus modos aos deles. Mas não dava. Eles eram rápidos demais.
   Uma vez, houve um grande piquenique em sua escola. Todos deviam levar um amigo. Mas Durval não sabia o que fazer. Procurou nas páginas amarelas e só sujou seus dedos com aquela tinta vagabunda. Olhou aqui e acolá. Ninguém queria ser seu amigo. Ele falava e as pessoas não o ouviam. Ele não era surdo, tinha certeza disso e assim, não era mudo também. Ele era bem branquinho, mas longe de ser transparente. Certo, não era assim tão bonito e nem tão inteligente. Ele era simpático e esperto; não era o último da sala, mas nem o primeiro. Era normal. Mas por que raios ele não conseguia um amigo?
   Chegou o dia do piquenique, faltavam poucas horas para o evento. Durval, a 2 quadras da escola olhava seus colegas de sala passando com seus amigos. Amigos bonitos. Ele tinha certeza que tinha pedido para ser amigo daquela menina loirinha de vestido roxo. E também do menino ruivinho, sardento, sorridente. E do menino de cabelo pixaim que estava lendo no parque. Todos o ignoraram; especialmente o menino do parque. O ignorou, deu um riso nervoso e saiu de passo apressado.
   Detrás da árvore, Durval só queria se sentir inserido em meio às brincadeiras. Mas ele sabia que se chegasse sem nenhum amigo, todos apontariam e ririam dele. Ou simplesmente não notariam a sua presença e seu dia seria um pouco mais cinza. E assim, Durval foi ficando mais triste e se afundando em seus pensamentos. Já se sentia humilhado antes mesmo de tentar.
   Durval precisava de um amigo para conversar e animá-lo, tirá-lo daquela situação constrangedora.
   Durval precisava de um amigo que fizesse todas as crianças ficarem admiradas.
   Sendo assim, Durval arrumou um fantasma.